Em BH, cidadãos de bem estão sendo confundidos com marginais no simples ato de ir e vir

Cidadãos Belo-horizontinos estão sendo prejudicados no seu direito de ir e vir por guardas municipais insensatos, como se fossem marginais merecedores de enquadramento. A que ponto chegamos!

O desabafo é do advogado e leitor do Blog Silvio Marinho que, em texto, manifestou a indignação de pessoas sujeitas as imposições de um prefeito desequilibrado, incapaz de perceber seus próprios limites.

Viramos reféns de guardas municipais incapazes de exercitar o bom senso. A que ponto chegamos? Essa é a afirmativa do texto e a pergunta que precisa ser feita para quem nos governa. Tudo tem limite e me parece que o povo de BH não aguenta mais tanto desrespeito. 

POR: Silvio Marinho – Advogado em Belo Horizonte

Daqui uns meses, se Deus me permitir, vou completar 64 anos de vida, e durante toda a minha existência, sempre me iludi pensando que poderia ser uma boa pessoa, alguém que se importasse com o próximo e que pudesse ajudar o outro. Me dediquei tanto nessa ilusão, enganei-me tanto com isto, que, pasmem, comecei até a orar e jejuar pedindo a Deus que me fizesse um ser humano melhor, mais amoroso. Mas, hoje a minha máscara caiu, eu senti que eu sou um falso, um hipócrita, que só penso em mim mesmo, que sou um tremendo de um egoísta, e além disso tudo, sinceramente,  eu senti que eu sou um marginal, sou aquele que anda à margem da Lei, me senti um bandido.

Ontem a noite eu e minha família fomos ao Extra Supermercado, aqui do bairro Belvedere, em Belo Horizonte. Um supermercado gigante, muitas pessoas ali dentro daquele ambiente fechado, mas, todos higienizavam suas mãos ao entrar e todos usavam máscaras. Fizemos as compras e saímos normalmente.

Hoje acordei as 6 horas, peguei o carro e fui correr em volta da Lagoa da Pampulha, embora saiba que trechos da lagoa estão interditados para transito de veículos. De acordo com o meu plano de corrida, hoje seria uma corrida de 9 km, e foi nessa corrida que caiu a minha máscara de cidadão correto e me fez ver o marginal que eu sou.

Estava uma manhã linda, céu aberto, sol suave entre 6:30 e 7:00 horas, uma brisa fria e com mau odor em alguns pontos da lagoa, mas, uma brisa deliciosamente renovadora.

À medida que corria, com o sol no meu rosto, eu enchia meus pulmões daquela brisa maravilhosa e me sentia vivo, me sentia agradecido a Deus por ter saúde e desfrutar dessa natureza linda.

Comecei a notar, uma viatura da guarda municipal, e mais a frente uma segunda viatura, e depois na volta do percurso, a terceira e a quarta, e ainda guardas de motos, rodando e vigiando e ligando sirenes, e de repente, um guarda de uma viatura parada me interpelou: “O senhor esta correndo sem usar máscara.” –  E eu respondi, já ouvi vários médicos falarem que não se deve fazer corrida de média distancia usando máscara porque há absorção de gás carbonico. E  o guarda respondeu: “O senhor está errado.”. Continuei a corrida e depois passa perto de mim um guarda de moto e aciona sua sirene e faz gestos para que eu ponha máscara, e mais a frente outro guarda de moto aciona a sirene e novamente fui incomodado e interrogado por estar correndo sem máscara. E eu me senti um transgressor, um marginal, um ser totalmente errado…

Ai eu parei e pensei comigo:  A que ponto nós chegamos?

Uma pessoa que levanta as 6 horas da manhã para cuidar da sua saúde, e vai correr sem aglomeração, em um ambiente ao lar livre, totalmente ventilado, com uma brisa maravilhosa lhe transmitindo saúde e oxigênio, e não pode correr, não pode fazer sua atividade física, sem que seja perturbado, sem que seja interpelado pelos policiais municipais, como se fosse um bandido em atos suspeitos, como se fosse um marginal com uma ficha extensa de crimes e por ser conhecido da guarda sempre é interpelado onde é encontrado.

Como chegamos a esse ponto? Como conviver com um clima horrível desses?

Continuei a pensar comigo:

Reduziram os horários dos ônibus na cidade e nos horários restantes, as pessoas se amontoam dentro dos ônibus fazendo uso dos bancos, segurando nas barras de apoio horizontais e verticais, com as pessoas paradas perto de outras, e é um ambiente fechado onde a renovação do ar é mil vezes pior do que à beira da lagoa da Pampulha.

Nos supermercados, um local também cheio de pessoas dentro daquele ambiente com pouca ventilação, e as pessoas tocando sucessivamente nos itens dos supermercados, qual a garantia de que todos os itens foram devidamente higienizados? E os sacolões e outros tipos de comércio em que as pessoas também tocam nos vegetais?

Quem com um mínimo de bom senso e coerência há de aceitar que o uso de máscara é capaz de impedir a contaminação destas pessoas nos ônibus, supermercados, sacolões e locais similares, enquanto que a simples ausência de máscara pode me tornar um condutor de Corona Virus com toda a ventilação e renovação do ar existentes à margem da lagoa da Pampulha?

Onde há bom senso e coerência neste festival de viaturas e policiais municipais à margem da lagoa da Pampulha, fazendo com que, quem está num ambiente aberto e ventilado e totalmente natural e livre, não possa fazer seu exercício sem ser incomodado, sem ser interpelado, sem ouvir sirenes e buzinas das viaturas e motos, sem ouvir broncas e resmungos dos policiais municipais, por não estar usando máscara, quando a própria medicina ainda não chegou a um consenso se é prejudicial ou benéfico usar máscara para fazer exercício de média e alta intensidade?

Eu me senti constrangido, me senti envergonhado, ao ser abordado por policiais municipais em uma situação dessas, em que eu estava apenas cuidando da minha saúde, e buscando preservar a imunidade, a saúde física e mental com exercícios físicos.

Após tudo isso, foi que a minha máscara caiu e eu percebi que, ou inexiste bom senso e coerência, ou então, realmente eu sou um marginal, um transgressor, eu sou um egoísta, eu sou um monstro sem coração, sem empatia, um homem sem amor. Pelo menos foi assim que eu me senti, diante de todas essas atitudes e todo esse policiamento.

Não sei se essa é a orientação do Prefeito de Belo Horizonte, mas, sei que,  essa total falta de bom senso fez com que eu, e muitas pessoas ali se exercitando, se sentissem extremamente constrangidas, envergonhas, como egoístas,  como transgressores, como marginais, como bandidos…

O exercício físico e a natureza linda da Lagoa construíram a minha saúde física, mas, vocês derrubaram e pisaram na minha saúde emocional…

Silvio Marinho é advogado em Belo Horizonte

Mensagens: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas