Em entrevista para o Roda Viva, Boni ex-diretor da Globo admite que Bolsonaro é um democrata

Foto: Acervo da Academia Brasileira de Marketing

O programa Roda Viva da TV Cultura da segunda feira (14), que pude assistir somente hoje pelo YouTube, foi com o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor da Rede Globo. O tema, evidente, não poderia ser outro, a Globo. A emissora continua entrando na casa de milhões de brasileiros, não só com a oferta de entretenimento, mas com um jornalismo que não tem agradado aos mais atentos que enxergam opinião e ativismo onde deveria prevalecer distanciamento e imparcialidade na cobertura jornalística.

Os que não acordaram ainda, devagarinho perceberão que a emissora vem perdendo o referencial do bom jornalismo, isso até o Boni admitiu. O ex-todo poderoso comandante da Globo não poupou críticas veladas e subliminares a Bolsonaro em sua “guerra” pessoal contra a emissora que Boni comandou por 31 anos. Incentivado por seis admiradores que o trataram como um  ídolo, Boni reconheceu que os ataques são mútuos e que neste conflito não haverá vencedor, mas perdedores. Perde o jornalismo nacional em segundo lugar. Já as perdas para Bolsonaro não parecem tão palpáveis.

Os ataques ao presidente faz a Globo angariar antipatia, perder respeito do público, prestígio e, sobretudo audiência. Quem diria ouvir do Boni que já foi o manda chuva, criticas ao jornalismo global. Embora ele se declare um apaixonado pela emissora, chamou de “impertinente a perseguição ao governo”. Lembrou também que a grade de jornalismo da Globo está cansativa “é o tempo todo isso, e precisaria ampliar a pauta”. Criticou a forma preguiçosa de reportar a noticia, “a pauta, das 8h até a meia noite é a mesma”, de ataque ao governo, sem necessidade.

Erros estratégicos que podem ser fatais para Globo

Os erros estratégicos foram lembrados pelo entrevistado do Roda Viva com destaque para a perda dos direitos de transmissão da Fórmula 1, do futebol e a retirada da programação infantil, que fez o público migrar para outros meios, especialmente para o YouTube. Quem ganha com desatino da Globo, isso ninguém tem dúvida, é a concorrência: SBT, Record, Rede TV e a Band. Para Boni a TV aberta sobreviverá somente se cuidar bem do jornalismo, com zelo redobrado pelo jornalismo especializado em esportes. “Não só o futebol, mas as várias modalidades de esportes”, profetiza.

O papa da TV lembrou que a descentralização no comando da empresa enfraqueceu e dividiu o poder, antes concentrado na figura do patriarca e fundador, o jornalista Roberto Marinho que tinha sensibilidade rara, e a diplomacia que falta aos herdeiros; fez críticas severas em relação ao uso de uma mesma linguagem para os diversos meios; confessou que é um consumidor fanático de jornalismo, tanto o nacional, quanto os estrangeiros. Boni sente falta do jornalismo opinativo consciente e isento, que ele enxerga apenas no Manhattan Conection.

Sem perder a elegância, que é sua marca, mostrou que a Globo precisa de uma reciclagem, mais profissionalismo e menos passionalidade na cobertura jornalística. O potencial da emissora é inquestionável, trata-se de uma das maiores do mundo, com arsenal tecnológico invejável, recursos humanos e experiência que deveria ser usada para agregar e ajudar o país a superar dificuldades. E não, ser combustível para desavenças políticas. Ele não acredita no fim da TV, mas “numa mudança de uma televisão do anunciante para a televisão do assinante”, relata.

Os streamings não ameaçam a TV na opinião de Boni

Os streamings ganharam o público, mas não serão coveiros da TV aberta na opinião de Boni: “Eles substituem o locador de vídeo da esquina, mas a TV, jamais”, afirma o ex-diretor que hoje comanda uma das afiliadas da Globo ao lado de 200 colaboradores. “Quem precisa ficar preocupado com os streamings é a netflix”, segundo o mago da televisão brasileira. Ele não acredita que haverá assinantes para toda a oferta de produção de streamings e que a TV vai se transformar, mas não vai acabar.

Boni não acredita na perda da concessão da Globo, embora o risco exista e esteja próximo do prazo da renovação ou não. Tudo depende de Bolsonaro e do Congresso Nacional. Ele acha um absurdo se acontecer. O ex-diretor da Globo defendeu Bolsonaro dizendo que o presidente é um democrata e lembrou que a guerra pessoal da emissora contra o governo está mexendo muito com todo jornalismo brasileiro, isso por que a pauta da Globo ainda segue influenciando o inconsciente coletivo dos jornalistas, sobretudo os menos experientes. Encerra dizendo que tudo isso deixa o jornalismo mais pobre e desacreditado.

Os notáveis que o entrevistaram, vale o registro, pareciam alunos diante de um mestre que a todo instante era reverenciado, e não um ex-diretor de empresa televisiva que vive momentos de grandes questionamentos, fato inédito na história da Rede Globo, embora Boni já não esteja lá há quase 20 anos.

José Aparecido Ribeiro é jornalista em Belo Horizonte

Contatos: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp 31-99953-7945

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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