Foto: Flávio Tavares/ Jornal O Tempo
Uma crise que parece não ter fim no Cruzeiro segue fazendo vítimas inocentes, longe de um final feliz, agora com a cumplicidade de uma torcida furiosa, passional e manipulada. Acompanho de perto o drama do 2º vice-presidente do clube, o empresário Ronaldo Granata que até aqui foi membro da diretoria apenas no papel. Logo na posse o presidente Wagner Pires deu sinais de que Ronaldo não participaria da gestão do clube ao deixar de anunciar seu nome para centenas de pessoas que acompanharam o evento no Cine Brasil Valourrec. Fui testemunha da desfeita, e de lá para cá Ronaldo esteve literalmente colocado para escanteio.
Vaga de garagem e sala confiscada na sede administrativa do clube
O presidente teve a ousadia de proibir a entrada do vice na Toca da Raposa e negar a ele uma sala na sede do clube na Rua Timbiras, confiscando-lhe até a vaga na garagem. Granata percebeu logo no início quais eram as verdadeiras intenções do presidente e do seu grupo gestor composto por Itair Machado e Sérgio Nonato, uma espécie de núcleo duro que transformaria o Cruzeiro em um verdadeiro balcão de negócios pouco republicano. Um governo paralelo com interesses muito maiores do que apenas ver o Cruzeiro ganhar títulos.
Vice paga do próprio bolso despesas de viagens para acompanhar o Cruzeiro
Mesmo preterido e literalmente humilhado pelos membros da diretoria próximos a Wagner, Granata seguiu questionando e cobrando da diretoria as decisões equivocadas que culminariam no rebaixamento do Cruzeiro. Meio que premonitoriamente o dirigente enxergava o futuro sombrio do clube que sua família ajudou a fundar no Barro Preto há quase 100 anos. Ele nasceu e cresceu dentro do Cruzeiro. Seu idealismo é tamanho que não admite nem gastos autorizados para acompanhar o time em competições nacionais ou internacionais. Às vezes que esteve na delegação, pagou do próprio bolso. Seu compromisso com o Cruzeiro não tem interesses financeiros, é por paixão e vínculo familiar que precisa ser honrado.
Ao contrário de outros dirigentes que enriqueceram da noite para o dia, o vice questionou varias vezes e sou testemunha, a remuneração de conselheiros e os altos salários do plantel cruzeirense que tinha funcionário ganhando mais de R$800 mil. A folha de pagamento mais cara do Brasil. Wagner nunca deu ouvidos, tampouco o Conselho parou para considerar o que Ronaldo estava tentando mostrar. Inexplicavelmente havia um sentimento de soberba por parte da diretoria e quanto mais o vice mostrava os erros que levariam o clube à bancarrota, mais as pessoas que cercavam Wagner agiam para desqualifica-lo.
Granata tentou alertar a imprensa e o Conselho sobre o rumo das coisas no Cruzeiro
Sou testemunha disso por que acompanhei Ronaldo em reuniões com veículos importantes de imprensa que ao invés de apurar erros e cobrar da diretoria do Cruzeiro, simplesmente repassavam para Wagner e seu grupo o conteúdo das reuniões, inacreditavelmente rasgando o código de ética do jornalismo. De certo motivados por polpudas verbas publicitárias e a sensação de que o caminho traçado por Itair Machado era o correto. Ou seja, por meio da imprensa mineira, a diretoria comandada pelo presidente Wagner estava blindada. Até que o programa fantástico da Rede Globo, usando repórter de outra regional, praticando jornalismo investigativo raro nos dias atuais, conseguiu mostrar que o que tinha por trás das aparências de um time vitorioso que ostentava títulos não passava de uma quadrilha envolvida em falcatruas que levariam um dos maiores times do Brasil e do mundo a falência.
Em denuncia do Fantástico Ronaldo Granata não escondeu a cara
Novamente Ronaldo não escondeu a cara e ao contrário de alguns conselheiros que vestiram saco plástico para denunciar desvio de comportamento, Ronaldo, de cara limpa, mostrou que o Cruzeiro caminhava para o abismo e para sua pior crise. Pois bem, agora Ronaldo virou o vilão da torcida graças a uma nova armação do presidente Wagner que associou sua saída do clube à renúncia do 2º vice, sob o argumento não confirmado de que três empresários dispostos a assumir o clube só aceitam a empreitada se a diretoria eleita sair inteira.
No entanto ninguém perguntou ao presidente o porquê desta condicionante, e nem aos empresários.
Ao contrário, a torcida covardemente invadiu a privacidade do vice-presidente, de forma altamente questionável e arquitetada, ameaçando sua família em mais um ato de selvageria que incluiu manifestações com foguetório na porta do seu prédio com ameaças de morte explícitas em redes sociais e até verbalmente ao telefone. Toda a família do dirigente que nunca teve poder e nem caneta está ameaçada por uma récua de torcedores fanáticos. Comportamento inaceitável e abominável que merece apuração e punição severa para os autores.
Foto: Flávio Tavares / Jornal O Tempo
O vice sabe onde estão os erros no Cruzeiro e é o único com mãos limpas
Mas por que Wagner quer a saída de Granata. A razão é objetiva, o vice sabe onde estão os remanecentes que seguem obedecendo a ordens de Itair Machado, Sérgio Nonato e do próprio Wagner. A prova disso foi a demissão de um dos braços direitos de Itair na Base, Amarildo responsável pelas negociações de jogadores na Toca I, 40 minutos de poder relativo que foi dado a Ronaldo, ato que pasmem, foi revogado no dia seguinte por Wagner tão logo soube da asfixia provocada em uma das portas de sangria do clube.
A torcida que segue cega surda e atormentada não entendeu ainda que a salvação do Cruzeiro passa por Ronaldo Granata, pois ele sabe onde estão os mal feitos no clube e é o único com legitimidade para ataca-lós. Porém de forma passional e covardemente, pedem a sua renúncia. Eu pergunto, que renúncia se o vice-presidente não tem nenhum poder? Renunciar a quê se nem caneta ele possui? Questiono ainda, a quem interessa tirar Granata da diretoria do clube? Os três empresários que supostamente exigem renúncia coletiva, e que sabem da lisura do vice têm vínculos com quem na atual diretoria?
O futuro do Cruzeiro nas mãos de empresários que sabem o valor da marca
Essa é uma pergunta que eu sugiro, seja investigada se ainda houver resquícios de jornalismo investigativo em Minas Gerais. O Cruzeiro está saindo das mãos de um grupo comprometido apenas com resultados financeiros pessoais, que tirou o time das páginas do esporte para as páginas policiais e corre o risco de cair nas mãos de outro muito mais comprometido com o que vale a marca Cruzeiro Esporte Clube, do que com o futuro do clube. Quem viver verá a injustiça que está sendo feita com o empresário Ronaldo Granata, o único vice-presidente de Direito que nunca foi de fato no futebol brasileiro.
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