Há 20 anos José Alexandre Alves Pereira, o Zé cabeça nos deixou, mas segue vivo em nossos corações

Ironicamente, o Zé Alexandre morreu voltando do Alegria, bar que ele despediu dos amigos para nunca mais voltar

Foto: Acervo da Família Alves Pereira – José Alexandre alguns dias antes de morrer

Hoje peço licença aos leitores do Blog para uma homenagem muito especial a um amigo que partiu há 20 anos, precocemente de forma trágica, e com quem tive uma vigorosa relação de amizade por apenas 5 anos, mas que se estivesse vivo, certamente estaria no hall daqueles que Roberto e Erasmo chamavam de “amigo de fé irmão camarada.”

Há 20 anos, o dia 24 de fevereiro foi sem dúvida o mais triste na história da família Alves Pereira, data do enterro de José Alexandre que morrera na noite anterior em um acidente de carro aos 32 anos de idade, deixando todos que o cercavam num vazio que até hoje gera tristeza e muita saudade. O Zé não era um cara normal, era um sujeito fora da curva quando o assunto era diversão, alegria e generosidade.

O Zé Cabeça, como se tornou conhecido, era uma das pessoas mais alegres e extrovertida que já conheci, dono de um carisma raro e um daqueles amigos que a gente encontra poucas vezes ao longo da vida. Conheci o Zé na inauguração do hotel San Diego Lourdes em janeiro de 1998, empresa que eu acabara de entrar, e por onde permaneci nove anos.

Foto: Acervo Família Alves Pereira – Humbertinho, Luciana, Daniela, Adriana e José Alexandre com a Vó, Sra Hilda

Mais do que a amizade, ganhei uma família e um sucessor, o seu cunhado Sérgio Wilcox. Acabei ganhando dos dois, o apelido do Zé Cachorrão, que era a forma como eu e Zé Alexandre nos tratávamos: O mesmo prefixo e só mudava o diminutivo, “Cachorro e Cachorrão”. Serginho além do cunhado era um amigo e salvador da pátria nas horas difíceis, um craque na recém-chegada tecnologia da informação – TI, e que hoje vive disso lá em Miami nos EUA.

Zé Alexandre me deixou duas irmãs, além da que eu tenho de sangue, Adriana e Daniela. Deixou também uma grande amiga, sua mãe Eliana, e uma vó que eu já não tinha mais, Dona Hilda, com a sua doçura e lucidez raras para uma Sra. que já havia passado dos 80 e que depois da morte do neto não foi mais a mesma, vindo a falecer poucos anos depois.

Me deixou também um tio “ranzinza,” mas daqueles que todo sobrinho gostaria de ter, Humberto Alves Pereira, com a tia Bló e o primos Humbertinho e Luciana, com quem mantenho excelente amizade e que segue firme com o legado do avô. Zé deixou para o mundo três filhas lindas e inteligentes, Camila, Isabela e Marcela Alves Pereira. Todos descendentes de um dos jornalistas mais respeitados de Minas Gerais, o fundador do Jornal da Cidade, Jofre Alves Pereira, cujo neto foi tratado com todas a regalias que os avôs corujas sabem empreender.

Foto: Acervo da Família Alves Pereira – Eliana e o Filho José Alexandre

Eu não sonhava em ser jornalista nesta época, minha carreira se desenvolvia na hotelaria, mas foi Zé Alexandre que me empurrou para o jornalismo e de uma forma inusitada. Parceiro das noitadas sempre que estávamos em alguma balada, e uma mulher lhe chamava atenção, ele tinha a mania de mandar um bilhetinho que no mais das vezes, dava certo, era acompanhado com um bouquet de flores no dia seguinte e ali iniciava o romance. Adivinha quem fazia os bilhetinhos sempre debaixo de gargalhadas do “galã” Zé Cabeça? Exatamente, o amigo Zé Aparecido. Nossa comunicação já não precisava mais de palavras, bastava um olhar e eu já sabia o que era para fazer. Os garçons eram cúmplices, especialmente os da Favorita.

Foi com os bilhetinhos feitos para as mulheres que Zé Alexandre apaixonava “à primeira vista,” que tomei gosto pela escrita e que alguns anos depois virariam textos jornalísticos, me transformando no que sou hoje, um jornalista meia boca que de vez em quando acerta. Este Blog nasceu em 2010 e está completando 13 anos com 1.550 postagens, graças ao Zé e seu entusiasmo pelos meus textos, que naquela ocasião, já andavam nos cadernos de opinião dos periódicos belo-horizontinos. Quando estávamos sãos, ele sempre repetia:”Você vai virar jornalista um dia, pode escrever”. Em sua homenagem, Cabeça, acabei virando em 2011 de fato, e em 2016 de direito.

Lembro-me como se fosse hoje de ter sido acordado às 2 da madrugada com o choro de Daniela ao telefone me informando que o Cabeça havia morrido em um acidente na reta do BH Shopping, voltando do “Alegria”. Um bar cujo nome, acredite, era Alegria, lá em Nova Lima na localidade de Água Limpa. Festa que ele havia me convidado e que declinei por ser um domingo de chuvas.

A caminho de casa, depois de algumas doses de JW-Red, Zé deu sua última acelerada no Maréa Turbo que ele tanto amava, pela última vez, e fez a fuselagem do carro sair do chão a 220 km/h, segundo relatos do Maneco que estava de copiloto e carona, sobrevivendo ao capotamento sem nenhum arranhão. Para infelicidade de todos nós, o Zé não usava o cinto de segurança naquele fatídico dia.

Não custa lembrar que ele morreu fazendo o que mais gostava quando não estava na companhia do amigo cagão, que morre de medo de velocidade. Naquela noite “Mauro Boy”, para os íntimos, ou “Dr Loboto,” como carinhosamente era tratado o amigo Dr Mauro Reis Junior, neurocirurgião estava de plantão no Pronto Socorro do Hospital João XXIII, e coube a ele atestar que Zé Alexandre havia morrido no local do acidente.

Não nos esqueçamos do detalhe, Maurinho era um dos melhores amigos do Zé Alexandre e quando soube das características do acidente e o veículo envolvido, não teve dúvida de que se tratava do Zé cabeça. Deixou o plantão e foi lá pessoalmente confirmar o que ele não gostaria de ver, mas a sua boa intuição sugeria. Imagine-se sendo neurocirurgião, dos bons, e não poder trazer de volta o amigo morto. Deve ter doido muito se considerarmos o ser humano que existe no mesmo corpo do competente médico.

Foto: José Alexandre com a Filha Marcela, e Adriana com o filho Sérgio Wilcox Jr.

Me arrependo profundamente de não ter ido naquela festa, pois na volta com certeza eu estaria com o Cabeça e ele não  teria acelerado seu Maréa para morte, pois se tinha uma coisa que ele não discutia comigo era sobre velocidade, sabia que eu era um medroso. Nas várias tentativas de incorporar o piloto de formula 1, de pescoço tombado, eu sempre achava um argumento para desestimular sua tara pelo acelerador.

Quantas vezes no c. da madrugada, saindo da noite na boate Na Sala, ele tentava e eu não deixava. Com bom humor perguntava se ele tinha compromissos e por que estava acelerando, e em todas eu vencia. Quando ameaçava acelerar, eu deliberadamente puxava o freio de mão, na maciota o convencia que não valia a pena acelerar o Maréa Turbo, que já não era tão novo e já havia sido desmanchado em colisões pelo menos umas três vezes.

Numa dessas que saímos cada um no seu carro às 4 da manhã da boate, lembro-me que ele quase jogou ribanceira abaixo, um Ford Ká em frente ao Morro do Papagaio, na direção contrária a da sua casa. Sozinho ninguém o segurava, e neste dia o Ford Ká foi salvo de ser jogado ladeira abaixo por que ficou preso numa cerca de arame farpado resistente. Foi o dia que eu conheci Serginho e que considero hoje um irmão que não tive.

Às vezes tenho a sensação de que Deus dá sinais que a vida será breve para alguns, no comportamento. Era o caso do Cabeça. Sua energia era diferente. Tudo que fazia era intenso, inclusive os amores que viveu. Ele precisava acelerar por que no fundo sabia que não teria muito tempo e precisava viver intensamente o máximo que pudesse, pois a ampulheta do seu tempo estava esgotando.

Viveu de corpo e alma em tudo que se propôs a fazer. Não tinha muito juízo, mas era dono de um coração que não cabia no peito. Seu sorriso largo encantava, sua presença de espírito e irreverência eram marcantes e selo de garantia da boa companhia, o companheiro para qualquer programa. Se era para farrear, não tinha tempo ruim. E tudo acabava em boas gargalhadas. Zoava do cunhado, dos amigos, os garçons que eram seus fãs e até de si próprio.

Foto: Acervo da Família Alves Pereira – Sra Hilda com os netos

A presença do Zé era garantia de alegria, mesmo em episódios tristes, pois ele dava um jeito de colocar a gente pra cima. Com a sua partida, deixou além das três filhas, um legado que não se apaga, seu bom humor, otimismo e fé, eram gigantes. Toda partida de um amigo, parente próximo, gera tristeza, e a sensação de vazio. A do Zé Cabeça foi pior, pois além de súbita, foi precoce, em um momento da vida que jamais imaginamos que pudesse ser interrompida.

Que seu descanso seja ao lado do pai celestial e que sua alegria de viver aqui, tenha sido transferida para o céu. Sorte nossa que tivemos o privilégio da sua convivência, ainda que curta. Valeu Cabeça, você foi um grande Amigo, daqueles do peito, que Deus nos presenteou e que são raros. Irmão, cunhado, filho, pai, sobrinho, neto, tio e amigo que deixou saudades eternas. Onde você estiver, saiba que nos nossos corações e memória, você não morrerá jamais, nem daqui há 100 anos.

José Aparecido Ribeiro

Jornalista

By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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