Iatrogenia x erro médico, e uma tragédia que não pode passar em brancas nuvens – Por: Dr. Jandir Loureiro

A iatrogenia é um evento indesejado, mas que infelizmente faz parte da atividade médica e precisa ser diferenciado do erro médico

Foto: Thinkers Brasil

POR: Dr. Jandir Loureiro – Médico Emergencista RQE em Ultrassonografia

O triste episódio da trágica despedida do cirurgião pediátrico Dr Eduardo Melo no dia 26 de julho de 2023 me fez refletir sobre o tema iatrogenia versus erro médico. O suicídio do médico que não suportou a execração pública após perder um paciente vítima de complicação de punção venosa central. A maneira distorcida como a imprensa noticiou e explorou o fato, foi decisiva para tal desfecho (Leia aqui a nota da Sociedade de Cirurgia Pediátrica e o editorial MPV).

Não quero reinventar a roda, então resgato os trechos do artigo publicado na Gazeta do Povo e também reproduzido no site do CRM-PR da advogada especialista em direito médico, a Dra Ana Elisa Pretto Pereira Giovanini. Aqui ela define a iatrogenia: “Não é incomum que um tratamento de saúde tecnicamente correto, mas cujo desdobramento gerou um dano ao paciente, seja rotulado como erro do profissional da saúde.”

Ao longo do texto, a autora descreve a diferença entre iatrogenia e erro médico e acho importante destacar esse ponto: “O erro médico advém de conduta ou omissão negligente (descuido, desleixo), imprudente (sem precaução, imponderado) ou imperita (inabilidade ou desconhecimento técnico) do profissional, da qual resultou um dano ao paciente.”

Destaco também sua avaliação jurídica num caso de iatrogenia: “A iatrogenia, portanto, não acarreta a responsabilidade civil do profissional da saúde, eis que decorrente de um agir tecnicamente correto. Nesse caso, além da intenção benéfica do profissional para a tentativa de cura do paciente, há um proceder preciso e correto, de acordo com as normas e princípios ditados pela ciência de sua área profissional.”

A iatrogenia é um evento indesejado, mas que infelizmente faz parte da atividade médica e precisa ser diferenciado do erro médico. Faz parte da natureza querer acertar sempre, mas se existisse alguma coisa que a sociedade pudesse fazer para reduzir ou minimizar esses erros ou iatrogenias não deveria ser objeto de atenção?

Então, uso este arrazoado para fazer uma sugestão: Que a política bancada pelo Governo Federal a favor da superprodução de médicos seja duramente combatida pelas entidades médicas, e pela classe política que representa a sociedade. A política de colocar o revalida light na prática é destrutiva para a medicina e até para a sobrevivência do médico.

Se não bastasse o absurdo do programa Mais Médicos que permite o formando no exterior sem a devida revalidação trabalhar como médico, agora o inscrito no programa vai receber o diploma de médico após a conclusão dos quatro anos. Diante do exposto só posso imaginar um cenário de aumento de erros médicos e não apenas fatalidades e casos difíceis como aquele que o Dr Eduardo passou, mas sim casos triviais dessa nova leva de “médicos”. Bem diferente do que sempre foi postulado para manter a qualidade da formação do médico brasileiro.

A queda na qualificação no jornalismo e a militância ideológica nessa área não é mais novidade para ninguém, mas isso não dá carta branca para tais profissionais produzirem peças acusatórias com erros grosseiros transformando uma fatalidade num erro médico e em seguida num homicídio culposo, colocando uma multidão enfurecida contra o cirurgião que dedicou sua vida a ajudar o próximo. Essa responsabilidade é da mídia.

Por fim, quero sugerir ao leitor e aos colegas médicos que o dia 26 de junho seja lembrado por todos como dia de proteção à saúde mental do médico. Esse episódio não pode cair no esquecimento e se por ventura voltar acontecer, que os médicos e suas entidades realmente cobrem das instituições o cumprimento dos seus papeis de defensores da categoria.

Não podemos mais aceitar passivamente este jornalismo tendencioso e persecutório, como este exemplo que culminou na morte trágica do Dr Eduardo, motivada pelo assassinato injusto da sua reputação. Que a justiça, mesmo que divina, se faça e seja severa com os difamadores irresponsáveis envolvidos nesta e em outras tragédias humanas desnecessárias.

Um abraço fraterno a família Melo.

Dr. Jandir de Oliveira Loureiro Junior é médico formado pela UNI-RIO, concursado na rede municipal do SUS – RJ, Pós graduado em Radiologia e Diagnóstico por Imagem e Medicina do Trabalho no Hospital Santa Casa do RJ  e RQE em ultrassonografia – Atuou como Emergencista do Polo Gripal de Silva Jardim, município que mantém um dos menores índices de letalidade por Covid em todo o estado do Rio, ocupando o 7º lugar no ranking de menores taxas. É Coordenador das Lives Comunica Médicos pela Vida.

José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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