As manchetes de jornais e sites dos principais veículos de comunicação de Belo Horizonte desta terça-feira (12) são explicitas, não deixam dúvidas, a imprensa está alinhada à Prefeitura no tema lockdown. O cidadão contribuinte e eleitor mais atento que navegar pelo portal da transparência da Prefeitura vai constatar a razão deste alinhamento seguindo o curso do dinheiro, em flagrante omissão da Câmara Municipal que não passa de puxadinho do executivo, salvo raras exceções.
É público, portanto não me chamem de leviano, que entre fevereiro de 2020 e o mesmo mês de 2021 as verbas com publicidade somaram R$46 milhões. Conta de padeiro mostra que foram gastos R$3,8 milhões por mês para anúncios, comerciais e publicidade em veículos de comunicação. O Jornalista pode e deve ter opinião, lado e até interesses, o que não é recomendável é que ele distorça a informação em benefício de a ou b para atender os acordos dos patrões, pois está sujeito a um código de ética internacional e ao crivo do leitor, colocando em risco sua credibilidade.
Não precisa ser especialista para constatar de que lado está os dois jornais abaixo que tem seus nomes preservados em respeito a tal ética que eles próprios chutaram ao estampar em suas capas o que na linguagem da comunicação é chamado de semiótica, com o propósito de distorcer e descontextualizar a informação. Ao usar a palavra AGLOMERAÇÃO atrelada às manifestações contra o lockdown em BH, o editor quis desmerecer os motivos do protesto de ontem na porta da PBH. Faltou chamar trabalhadores que lutam pelo direito à sobrevivência de baderneiros.
Preocupados em patrulhar quem não usa máscara, repórteres deixam de fazer jornalismo
Como patrulheiros a serviço do prefeito que se comporta como um ditador desequilibrado, se não bastasse o comandante da Guarda Municipal assistindo de camarote o protesto da sacada do executivo municipal, repórteres construíram narrativas menos atreladas às motivações do protesto e mais focadas em quem não usava máscaras no evento. Eles não sabem de certo o significado de desemprego para um pai de família na iminência de ver a fome entrar na sua casa ou as contas atrasadas, inclusive o IPTU, chegarem sem parar, com recursos acabando. Lembro aos repórteres autômatos e doutrinados em faculdades aparelhadas que o auxílio emergencial acabou.
A questão não é do conteúdo das matérias ao abrir os jornais e sites, mas das manchetes e narrativas que reúnem conteúdos variados, que descontextualizam os referentes de forma a chamar atenção do possível leitor de acordo com a conveniência do editor. Este é o exemplo de como o valor notícia sucumbe frente ao apelo comercial, neste caso, atendendo ao discurso ensaiado e conveniente do prefeito que só tem um objetivo: tornar-se conhecido para levar a cabo seus planos políticos rumo ao governo de Minas.
Nos dois casos abaixo as manchetes principais ganham destaque diminuindo propositadamente as chamadas secundárias, ambas usando o termo AGLOMERAÇÃO para distorcer a informação e influenciar o leitor. O mesmo ocorreu em praticamente todos os telejornais televisivos da cidade, parceiros velados do prefeito.
Sou um eterno aprendiz, aluno médio recolhido à minha insignificância, mas aprendi que o bom jornalista deve retratar os fatos. Quando desejar emitir opinião deve usar a coluna do jornal ou do site, espaço específico que serve para isso. Se o que vemos nestas duas capas de jornais e nos vários exemplos constatados nas TV´s, rádios e portais de notícias não é alinhamento com o Prefeito de BH, eu preciso voltar para a faculdade e reaprender tudo.
Entidades do setor produtivo e Ministério Público seguem omissos
Na contramão do ativismo explícito da imprensa, entidades do setor produtivo e o Ministério Público de MG seguem omissos, inertes. As exceções existem, são raras e honrosas, tanto na imprensa como nas entidades representativas da sociedade. Porém, no MP o caso é mais grave, estão todos calados assistindo o prefeito agir como um Rei absolutista e não como um governante que foi eleito por parcela da população, e que não é maioria, haja visto o alto índice de abstenções nas urnas em 15 de novembro de 2020.
Argumentos frágeis sustentam decreto que mantém fechamento da cidade
O decreto que fecha a cidade pela terceira vez se sustenta em aumento na taxa de ocupação de leitos destinados ao tratamento do Covid 19, que, de acordo com a partidária secretaria de saúde, é de 80%. O porquê de o índice ter mudado de patamar de uma hora para outra, justificando inclusive renovação do “Estado de Emergência” é que deveria ser objeto de questionamento das entidades e do MP, já que a Câmara Municipal e nada é a mesma coisa.
Antes da retirada dos 170 leitos por ordem do prefeito, a taxa de ocupação era de 50%. Portanto, basta o uso da lógica para constatar que não houve aumento na taxa de contaminação, mas a diminuição na oferta de leitos. Ambos, entidades e Ministério Público têm o dever de exigir explicações do executivo sobre a matemática dos índices manipuláveis, pois afinal TRABALHO é direito do cidadão. A falta dele pode levar pessoas inocentes e desprotegidas à morte tanto quanto ou mais até do que o vírus.
José Aparecido Ribeiro – Jornalista independente em BH
Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhtasApp: 31-99953-7945 – www.blogdozeaparecido.com.br
- Este Blog não recebe verbas publicas, mas precisa sobreviver e por isso aceita doações ou patrocínios.