Uma singela homenagem às Mulheres, na pessoa daquela que me pariu
Minha homenagem para as mulheres neste dia Internacional, escolhido para reforçar a importância da própria existência feminina na vida de qualquer homem, não poderia ser outra se não para a mulher que do ventre eu sai, a minha mãe.
Aos 86 anos, lutando contra o Alzheimer, a demência senil e um Parkinson que avizinha-se, ela segue vivendo um dia de cada vez, na medida do possível bem para quem até 2 anos atrás era completamente independente e hoje depende de terceiros para sobreviver. Para nossa sorte e dela, com a presença diuturna de quem ela mais ama, incluindo filhos, irmãs, netos, bisneto.
Viúva aos 38 anos, pouca instrução, inexperiente e sem alternativas, restou-lhe ir a luta com determinação e instinto de sobrevivência. Viveu para a família, para o trabalho com pouco ou nenhum tempo para o lazer, tampouco para as coisas mundanas. Seu senso de responsabilidade foi seu guia, a porção divina que é luz para as viúvas e para as mulheres que cumprem papel de provedoras em milhões de lares brasileiros, numa sociedade que segue omissa, negligenciando suas obrigações com quem alcançou a terceira idade.
Ela, como milhões de mulheres brasileiras, sofreu as consequências de um modelo patriarcal que deixou resquícios e que nega para a mulher até hoje, a emancipação. São as influências de tradições e de um modelo machista herdado de culturas feudais enraizado na sociedade brasileira, confirmado por religiões que aprisionam, pelo estado e por homens retrógrados, oportunistas que sub-julgam e medem elas com réguas próprias. Eles existem até hoje, pasmem.
As mulheres que nasceram há mais de 60 anos, em sua maioria foram criadas para a profissão de “Amélias”, havia até canção e exaltação com direito a marchinha de carnaval. Para as que venceram o preconceito e foram à luta, instruíram-se, conquistaram espaço e o respeito, a transição para o mundo moderno não foi tão traumática. Conheço muitas que protagonizaram as mudanças e na pessoa de uma, cumprimento todas: Maria Elvira Sales Ferreira, amiga admirável.
Mas nem todas tiveram a mesma sorte ou chance de lutar por instrução, emancipação e oportunidades no mercado de trabalho, tampouco tinham consciência do significado de autodeterminação sexual e afetiva. Essas continuam sofrendo dentro de ônibus lotados, ganham menos do que homens nas mesmas funções, são desrespeitadas e até violentadas por parceiros insensatos.
São elas as vítimas dos machistas que precisam de leis para algo que deveria ser natural, o respeito às parceiras. A elas minha solidariedade e incentivo para que não tolerem vozes elevadas, agressões e nem desaforos de qualquer natureza. Levantem-se, denunciem não se permitam menos do que respeito e autonomia, libertem-se.
Encerro essa homenagem agradecendo a minha mãe pela dedicação e pelos exemplos que jamais serão esquecidos e que me fazem reconhecer, admirar, respeitar e desejar que as Mulheres sejam vistas não apenas pelo gênero, mas pela natureza divina que começa na concepção da vida, na dedicação à sobrevivência e felicidade da sua prole, no mais das vezes, com graça, sentimento de realização, leveza de alma e feminilidade. Mulheres fortes e livres.
Vida longa, proteção, resiliência, clarividência, coragem e felicidade, é o que desejo para Elas!
José Aparecido Ribeiro é jornalista.
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