Ao encontrar nota de R$100 no banco traseiro, motorista de aplicativos não teve dúvidas de que a devolveria para o dono no dia seguinte
O Cel Rui Domingos Carence é meu amigo de longa data, comandou o 1º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais na Praça Floriano Peixoto em Santa Efigênia, entre 1997 e 1999. Hoje na reserva, gozando de merecido descanso, gosta de viajar eventualmente, e é além de padrinho, meu leitor. Há alguns dias ele me contou uma história digna de registro e que serve de exemplo, sobretudo em tempos difíceis como os que vivemos, sugerindo que ela fosse publicada.
O episódio me fez lembrar de um caso que ganhou as páginas da imprensa na semana passada pelo mesmo motivo, no dia 31/10: Taxista de Fortaleza (Valdemir Mota, 43 anos), recebeu pix de R$4 mil de uma passageira por engano. A ver o dinheiro na conta não pensou duas vezes, aguardou a passageira ligar e imediatamente fez a transferência, registrando o caso em uma delegacia de polícia. O episódio virou noticia nacional.
A história que o Cel. Carence me contou é muito parecida, até no detalhe da idade dos protagonistas. Ao chegar de uma viagem com a esposa em Confins na noite de 26 de outubro próximo passado, chamou o motorista de aplicativos Marcos Aurélio Torres Mendes (43), que prontamente estava lhe aguardando no desembarque do Aeroporto para transporta-lo até o bairro Castelo em BH. Corrida feita, o coronel pagou em dinheiro.
Na manhã seguinte foi surpreendido com telefonema do motorista Marcos que pediu que ele fosse até a portaria do prédio para devolver algo que havia esquecido no banco de trás do carro. Qual não foi a surpresa do coronel e da esposa Isabel (Morena), quando recebeu de volta uma nota de R$100 que havia caído no momento do pagamento no dia anterior.
Conversei com Marcos e ele me contou que ao chegar em casa, como de costume verificou se havia objetos esquecidos no banco traseiro e lá estava o dinheiro que não lhe pertencia. Marcos é natural de Taiobeiras, norte de Minas, e disse não ter dúvidas do que devia fazer: “sou filho de Juvenal e Lilian, casado, pai do Enzo Gabriel, e sempre recebi dos meus pais um ensinamento de que o que não é nosso, não é nosso, deve ser devolvido”, disse com naturalidade.
O profissional já foi garçom e entrou no ramo de aplicativos de transporte depois de ter deixado o restaurante Chic-Chic, ao lado do Hospital São Camilo em BH. Ele alega que todas as vezes que um passageiro desce do seu veículo tem o hábito de passar os olhos para verificar se não ficou nada para trás, mas que dessa vez como já era quase meia noite e seria a última corrida, resolveu fazer a checagem em casa.
“Quando vi a nota de R$100 brilhando, não pensei duas vezes, guardei para ligar na manhã seguinte, eu tinha certeza que era do coronel. Acho isso algo extremamente natural, o que não me pertence é de alguém que transportei no meu carro, e nada mais justo do que devolver seja um objeto ou mesmo dinheiro em espécie. Não mexo em nada que não é meu. Mas se isso servir de exemplo para alguém, ao ler esta reportagem, fico satisfeito”, encerra Marcos Aurélio.
José Aparecido Ribeiro é jornalista
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