No Caminho com Lula – Por: Antônio Calábria – Jornalista – Publicado em abril de 2007 como uma profecia

Qualquer semelhança com o cenário atual no Brasil não é mera coincidência, é a história se repetindo do outro lado do Atlântico, com riqueza de detalhes, 100 anos depois

POR: Antônio Calábria – Jornalista  (abril/2007)

“No mês de abril de 1930, aos 33 anos, o maior poeta russo contemporâneo, deu fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída. Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as suas ideias. O poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma! Ele acreditou piamente na revolução russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação.

Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma. A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniquidades, em mais violência. Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena. Num curto e maravilhoso poema, Eduardo Alves da Costa, seu crítico e tradutor, resumiu assim toda a sua desoladora tragédia: 

 NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI.

NA PRIMEIRA NOITE,

ELES SE APROXIMAM

E ROUBAM UMA FLOR

DE NOSSO JARDIM,

E NÃO DIZEMOS NADA.

NA SEGUNDA NOITE,

JÁ NÃO SE ESCONDEM,

PISAM NAS FLORES,

MATAM NOSSO CÃO,

E NÃO DIZEMOS NADA.

ATÉ QUE UM DIA,

O MAIS FRAGIL DELES,

ENTRA SÒZINHO EM NOSSA CASA,

ROUBA-NOS A LUZ E,

CONHECENDO O NOSSO MEDO,

ARRANCA-NOS A VOZ DA GARGANTA.

E JÁ NÃO PODEMOS DIZER NADA.

Nestes tempos tristes, muitos estão vivendo as mesmas angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria.  Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça. Os que chegaram ao poder, sem qualquer noção de servir ao povo, logo revelaram as suas verdadeiras faces.

O país está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A lei maior, aquela que o país aprovou através de seus representantes, essa lei não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todas as violências. Nas grandes cidades, dois governos, duas autoridades. A tradicional e a dos marginais. No campo, ausência de direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes atrevidos e até debochados, está conseguindo levar o desassossego e a insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam para sobreviver.

 Isso já vem acontecendo há muito tempo e não há sinal de que alguma autoridade pretenda submetê-los às penas da lei. Pelo contrário. Eles gozam de imenso prestigio junto ao presidente, que não se acanha em lhes dar cobertura e agir com a maior cumplicidade. A ausência das autoridades tem sido o grande estímulo para que esses grupos, e outros que vão surgindo, venham conseguindo, num crescendo de audácia e desrespeito, levar o pânico e o medo aos que vivem do trabalho no campo. A mesma audácia impune garante também a expansão das quadrilhas de narcotraficantes em todo o país. A cada dia que passa eles chegam mais perto de nós. Se examinarmos com atenção os acontecimentos destes últimos dois anos, dá para entender o nosso medo.

 Quando explodiu o caso do Valdomiro Diniz, as autoridades estavam na obrigação de investigar tudo e dar uma punição exemplar. O que se viu? Uma porção de manobras para encobrir os fatos e manter os esquemas intocáveis. E qual foi a reação do povo?  Nenhuma.  Roubaram uma flor de nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada! Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados largaram suas legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e desafiadora alegria no alto comando do país! E qual foi a reação do povo? Nenhuma. 

Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que podia nos defender, e nós não dissemos nada! Quando um parlamentar, que fazia parte integrante da tal maioria, veio denunciar o uso de recursos públicos, desviados de forma indecente, com a conivência dos altos ocupantes do governo, provando que a direção do PT e do governo sabia de tudo e de tudo haviam se aproveitado, qual foi a reação do povo? Nenhuma.

Eles nem se importaram mais com o fato de terem sido descobertos. O mais frágil deles entrou em nossas vidas, roubou a luz de nossas esperanças e, conhecendo o nosso medo, ainda se deu ao luxo de arrancar a nossa voz da garganta! Será que vamos aceitar? Será que não vamos dizer nada? Será que o povo brasileiro perdeu de vez a sua capacidade de se indignar? A sua capacidade de discernir? A sua capacidade de punir? Acho que não. Torço para que isto não esteja acontecendo. Sinto, por onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de nojo está crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar estes aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral.

Não se cuida apenas de ganhar uma eleição neste momento. O importante é não perder a alma, o direito de sonhar, a vontade de viver melhor. Colocar este momento como uma simples luta entre governo e oposição é muito pouco. E derrotá-los, simplesmente, também é muito pouco diante dos crimes que eles vêm praticando contra as esperanças de um povo de boa-fé. O que esquenta a alma das pessoas é o corajoso sentimento de que é preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente. Não podemos permitir que eles nos calem para sempre. Se não forem enfrentados, se não forem punidos, se os seus métodos e processos não forem repudiados, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido arrancada de nossa garganta.

Já não poderemos dizer nada.”

(Escrito há 17 anos , em 30.04. 2007 mas muito atual, para não dizer profético.)

José Aparecido Ribeiro é jornalista e editor

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

3 Comments

  • TRISTE SINA dos brasileiros, escapar de estelionatários/sanguinários militares e cair nas mãos de estelionatários de direita, esquerda, centrão e espirituais!!!
    AINDA BEM que O Senhor dos Exércitos, TEM LIVRADO os inocentes, embora para quem não busca entendimento espiritual, pareça o contrário!
    Obrigado Senhor!

  • É a manifestação pura e clara da verdade! Acho que muitos brasileiros, ainda estão se guiando pelo compromisso do Ptesidente Bolsonaro, de AGIR DENTRO DAS QUATRO LINHAS, eu acredito que está na hora de atentarmos a possibilidade de agir da mesma forma que a esquerda age, sem se preocupar com as linhas, que era um compromisso do Presidente Bolsonaro, mas nós, população, não temos necessariamente a obrigação de seguirmos este pensamento. Pode que seja uma utopia , relatar um pensamento dêstes, mas enquanto isso a corja está deitando e rolando e rindo da nossa cara!

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