O PL 2630 propõe limites para a imprensa, e para quem usa a internet para se comunicar, pelo menos a parcela que pensa diferente do stablechimet
Foto: Reprodução – PL da Censura
Ontem, quarta-feira (3) foi o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, e não por acaso, esperei o raiar do sol, day afther, para verificar se haveria alguma matéria, texto, artigo ou comentário que sugerisse reflexões sobre a distopia, contradições e incoerências entre o que se diz, e o que se pratica no novo governo que foi empossado, meio que na marra em 1º de janeiro de 2023. Vi, e ouvi mais do mesmo e nenhuma razão para comemorações sobre liberdades, ao contrário, muito a se preocupar com a proposta de censura disfarçada.
A data coincide no Brasil com o canto da sereia sobre limites para a imprensa, sob o pretexto de se proteger a população vulnerável, aquela incapaz de fazer juízo crítico da realidade, com uma lei contra as supostas fake news, PL 2630. A imprensa precisa de limites? evidente que sim. Ela deve ser amordaçada por quem se apresenta ungido e portador da verdade? Claro que não. Afinal, quem diz o que é fake news e o que não é? A não ser que tenha no Brasil agentes públicos com poderes sobrenaturais detentores de sabedoria divina. A democracia não é a garantia de espaço igual para os diferentes? Para os que excedem ou cometem crimes na internet, não é difícil invocar as leis e o marco regulatório do setor para repor a ordem. O que não pode é, de forma unilateral alguém dizer o que é fake news.
O PL 2630 tenta impor limites para a imprensa e para quem usa a internet de forma temerária, ou pelo menos a parcela da imprensa que pensa diferente do stablechimet. E quando a imprensa está a serviço do sistema? Ela deve também ter limites? O que assistimos no Brasil em relação ao jornalismo é uma completa inversão de valores. Jornalistas agindo como militantes políticos, escolhendo lados e agindo como cabos eleitorais, em flagrante ataque à deontologia da profissão. Quem tem mais de 13 neurônios na cabeça percebe nitidamente que a ética jornalística foi para o espaço há muito tempo.
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa deveria ser todos os dias e valer não só para a parcela obediente que trabalha para o sistema, mas para todos, independente de ideologias ou cores partidárias. A sociedade espera do jornalista comportamento ético e distanciamento, respeito e imparcialidade na apuração dos fatos. É assim que funciona em democracias maduras e países civilizados, o espaço para o contraditório garantido. Convenhamos, não é o que a prática tem revelado nos últimos anos no Brasil e nos países em que a esquerda ascendeu ao poder.
Na prática o que se vê são narrativas alinhadas da imprensa com quem dita as regras do jogo, em verdades frágeis de que a democracia está sendo ameaçadas por “golpistas e radicais”. Novamente numa total inversão de valores e argumentos montados para subverter a ordem das coisas. Para isso vale semiótica, semântica, arranjos textuais e marketing no lugar de jornalismo. Modus operandi de regimes totalitários cuja verdade é relativizada de acordo os interesses de governantes tiranos. Por isso o dia 3 de maio de 2023 não é uma data comemorativa, mas razão para questionamentos e de vergonha, pois marca um período de perseguições e descaso pelas leis, pelos princípios fundamentais garantidos igualitária ente.
Por muitos anos, durante o regime militar, a imprensa lidou com a figura do censor. Eram eles que diziam o que podia e o que não podia ser veiculado nos impressos, no rádio e na tv. Ironicamente, o sensor moderno é justo os que se dizem guardiões das liberdades e da Constituição e dos bons costumes.
Tudo isso com a conivência e cumplicidade de parlamentares graduados, ministros da corte suprema, investidos de poderes a serviço da causa socialista. Chegaram ao ponto de mandar desmonetizar, prender por ofício, ignorar os ritos processuais e rasgar a Constituição sem a menor cerimônia. É difícil imaginar que um dia haveria jornalista exilado e amordaçados no Brasil? O pau que dá em Chico, neste caso não dá em Francisco, e a regra vale para a direita, mas não vale para a ala esquerdista da imprensa, que é maioria.
Quem tem mais de 60 deve lembrar do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Antes era nas redações dos grandes jornais que os agentes da censura vigiavam, hoje essa mesma imprensa virou aliada dos censores e se justifica que tudo é em nome da “democracia”. Os jornais alternativos, sites e veículos que usam a internet quiserem exercitar a “liberdade”, precisam primeiro se alinhar ao chamado consórcio de mídia, praticando claro, o discurso do sistema, e assim ganhar a proteção do governo e da justiça.
Quem não se alinha é atacado e perseguido. Vale lembrar o caso do jornalista Alan dos Santos, em exílio nos EUA, num flagrante ato de perseguição pessoal do ministro Alexandre de Moraes, uma espécie de imperador que se diz democrata. O Poder Judiciário de uma hora para a outra, virou o censor e só ele sabe o que é bom para o povo.
Uma imprensa livre de fato é aquela que respeita o principio basilar do jornalismo que é o de ouvir as partes, manter o distanciamento, deixar para o leitor ou telespectadores o benefício decisão.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e presidente da Abrajet-MG
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