O fim da BHTrans pode significar o começo de um novo pesadelo para o trânsito de BH

O trânsito da capital mineira não é administrado pelos princípios da engenharia, mas pela ideologia de quem decide sobre mobilidade, equivocadamente

Foto: Prefeita de fato, Maria Caldas e Alexandre Kalil, Prefeito de direito

O déficit de infraestrutura das grandes cidades brasileiras não é privilégio de Belo Horizonte, mas aqui o fosso parece ser maior do que o da maioria das capitais. Nos últimos 30 anos a frota de veículos e motos cresceu mil por cento e a cidade continua a mesma. Quando o último prefeito obreiro da capital aposentou, a cidade tinha 300 mil carros, hoje ela tem 2,2 milhões de veículos, sem contar a frota flutuantes de 853 municípios mineiros que visitam BH.

Alguns dizem que a culpa é do excesso de veículos; outros a falta de recursos para investimentos em obras de arte da engenharia. E há quem diga que é falta de um plano metropolitano. A verdade é que somado a tudo isso, existe a interferência nefasta da “turma do deixa disso”. Os acomodados. Se você está se perguntando quem são eles, eu explico.

Foto – Edição do Brasil – Anel Rodoviário de BH

A turma do deixa disso é composta por militantes da arquitetura, da engenharia, do urbanismo e da gestão pública municipal, ativistas de esquerda, em sua maioria. Gente que fez pós-graduação, mestrado ou doutorado na Europa, normalmente em cidades do interior de países do velho continente, e que se apaixonaram pelo modelo preservacionista que não permite obras nestas cidades. Algumas com mais de 1.000 anos.

Eles acham que o modelo certo para BH deve ser o de uma cidade estática, que preserve o patrimônio de 120 anos. São contra o carro, querem exorcizá-lo a qualquer custo, defendem com razão relativa o transporte público, as formas ativas de mobilidade como bicicleta e andar a pé. São românticos e apaixonados pelas próprias ideias, ainda que elas não apliquem a realidade de uma capital com pouco mais de 100 anos que cresceu desordenadamente sem planejamento.

Um bando de sonhadores ocupando cargos estratégicos na estrutura administrativa da cidade, infelizmente desconectados da sua realidade, e achando que todo mundo é obrigado a pensar com a cabeça de europeu só que no meridiano 51o 02`35″ a oeste de Greenwich . Regra geral andam de carro, mas se dizem contra ele. Para disfarçar, participam de movimentos a favor das bicicletas e de lunáticos que defendem tarifa zero no transporte público.

Foto: UFMG – 400 mil pessoas em BH vivem em favelas e dependem do transporte público

Não conseguem entender que o modelo de mobilidade brasileiro se assemelha muito mais ao de cidades dos Estados Unidos, e muito menos ao de países europeus cujas cidades são médias e pequenas. No velho continente devo lembrar, clima e topografia contribuem para uma mobilidade ativa e não motorizada. A título de exemplo, Londres tem 3,7 mil km de linhas segregadas de transporte público de boa qualidade. Paris, 600 km de metrô. A Ilha de Manhattan tem 400 km de metro para atender sua população e milhões de visitantes.

No Brasil, apenas a cidade de São Paulo tem metrô capaz de fazer frente às demandas de transporte público mesmo assim, de forma precária. O Rio de Janeiro também sofre com a precariedade do transporte público. São Paulo a título de comparação, possui uma frota de nove milhões de veículos, crescendo a uma taxa de 6% ao ano.  Belo Horizonte com 2,2 milhões é o exemplo de inoperância, incompetência e acomodação de gestores públicos sem meta a cumprir.

Foto: Edição do Brasil – Pior trânsito do Brasil

A cidade acumula um déficit de obras na casa dos R$50 bilhões – 40 anos parada no tempo. Atualizá-lo é dever dos governantes, mas eles fingem não saber do que se trata, motivados pela preguiça que tomou conta de servidores municipais com estabilidade de emprego e acomodados. Os gargalos se multiplicam, não existe vias expressas. A que existe de direito não é de fato, tem 8 interrupções de tráfego. Isso faz o sanguinário Anel Rodoviário virar a única alternativa para quem precisa atravessar a cidade sem interrupção de tráfego. Uma coisa não deixou de evoluir na cidade que parou no tempo: A milionária INDÚSTRIA DA MULTA.

BH sustenta o título de capital do Brasil com o maior número de sinais de trânsito, 90% deles, sem sincronia. (onde mora a caixa preta da BHTrans). Não existe uma única via cujo sinais funcionem em onda verde, o que causa estresse, gasto excessivo de combustível e poluição do meio ambiente. Sobre isso nenhum dos xiitas da mobilidade é capaz de abrir a boca.

A cidade tem o terceiro pior trânsito do mundo, perdendo apenas para Bogotá e Cidade do México em tempo de deslocamento. Estudos de agência Americana que mede perdas econômicas em engarrafamentos mostram que o belo-horizontino passa 202 horas por ano agarrado no trânsito. Isso também não tem qualquer valor para gestores públicos e para a turma do deixa disso, engenheiros e urbanistas de pranchetas.

Foto: Hoje em Dia – A pior gestão de trânsito do Brasil

Bastou a vida voltar ao normal pós pandemia para que os velho problemas também voltem a incomodar quem desloca na capital mineira. Alguns gargalos saltam aos olhos e já são velhos conhecidos de motoristas: Av. Cristiano Machado, importante corredor de tráfego que liga o centro ao Aeroporto Internacional em Confins, é um dos piores.

Bastariam três viadutos, duas trincheira e a eliminação de sete sinais que podem ser substituídos por passarelas para o trânsito fluir e o martírio acabar. Aliás, a palavra fluidez não existe no dicionário da Sudecap e da BHTrans, ambas autarquias responsáveis pelos projetos de infraestrutura e mobilidade da terceira maior cidade do Brasil. A boa engenharia desapareceu das ruas de Belo Horizonte, só se vê puxadinhos. E ninguém se manifesta.

Outra aberração é o cruzamento de Av. Raja Gabaglia com Av. Barão Homem de Melo, incluindo a Rua José Rodrigues Pereira, porta de entrada e saída do bairro mais populoso da capital, o Buritis, onde acreditem, fica a sede da BHTrans. Tenho a sensação, andando por BH que o prefeito e o presidente das duas autarquias, bem como os vereadores não conhecem a cidade que governam. Associações também se apresentam como estrangeiras, não abrem a boca.

Foto: Site Mais BH – Filas incontáveis

Av. Amazonas, saída para São Paulo e o Triângulo Mineiro, ligação de BH com Contagem e Betim possui 45 sinais de trânsito em 13 km de extensão. Todos sem sincronia. A Av. Antonio Carlos, outro importante corredor que liga o centro a zona norte da capital, possui 42 sinais em apenas 9 km. Para lado nenhum o motorista encontra fluidez na capital dos semáforos.

Os gargalos que exigem intervenção de engenharia somam mais de 200 e estão em todas as regionais de BH. Se não bastasse o “para e arranca”, o piso da cidade encontra-se destruído, piorando a fluidez e causando prejuízos incalculáveis ao patrimônio particular dos cidadãos que são obrigados a gastar com manutenção de veículos. A frota que hoje é de 2,2 milhões de veículos para uma cidade de 2,6 milhões cresce a taxas de 7% ao ano, mas nem isso serve de alerta para o prefeito e para os “especialistas” de ocasião. Talvez o prefeito não conheça 20% da cidade que governa, tampouco o que deveria ser prioridade.

São sinais inequívocos de que os modais de transporte coletivo não possuem apelos para que a população possa fazer sacrifícios, deixando o carro em casa para usar o transporte público. BH não tem topografia e nem clima favoráveis ao uso de bicicletas, os morros e a temperatura média de 30 graus desestimula o pedal da bike. Apenas 0,06 % da população se habilita a usá-las como modal de transporte para os deslocamentos a trabalho. Não por acaso os acidentes são constantes.

Foto: Cajuru – Acidente envolvendo bike

Ou seja, na medida que o tempo passa e o número de veículos nas ruas cresce, as perspectivas de soluções só pioram. Recentemente um conhecido vereador que é defensor apaixonado pelas bicicletas e candidato a prefeito em 2024, propôs a extinção da BHTrans e a criação de uma Companhia de Engenharia de Trânsito. A proposta está sendo vista com bons olhos pela população e pelo prefeito.

O que ninguém sabe e fica fácil deduzir é que se está ruim pode piorar caso a autarquia for parar nas mãos da prefeita de fato, uma tal Maria Caldas, cujo perfil encaixa-se perfeitamente na turma do deixa disso, citada acima. A tal prefeita foi responsável pela maior tragédia que a cidade já viveu nos últimos 50 anos, é a responsável pela aprovação do Plano Diretor que proíbe a verticalização da cidade promovendo a maior fuga de empresas e empregos da história de BH. Defende cidades espraiadas que exigem investimentos em infraestrutura. Contradição? Não, incompetência.

Foto: Blog do Zé Aparecido – Um dos 13 gargalos da Av. Cristiano Machado

Ela faz parte dos quadros do PT há mais de 30 anos, e foi expulsa de São Paulo pelo então prefeito João Dória Jr. por causar prejuízos ao mercado da construção civil, quando secretária do ex-prefeito Fernando Hadad. É uma defensora ferrenha das cidades estáticas, imexíveis, sem obras e sem mudanças. Em BH ela é a dona da verdade e PT saudações.

Dispensa dizer que estudou na Europa e não conseguiu até hoje compreender que está no Brasil, e aqui, o carro não tem como ser varrido para debaixo do tapete. Ela é burguesa, gosta da vida boa proporcionada pelo capitalismo, nunca gerou um único emprego, mas posa de socialista moderninha. Tem o carimbo da ideologia na testa, mas administra uma cidade capitalista. Ninguém se manifesta a respeito desta contradição e de outras contradições explícitas.

Foto: Blogo do Zé Aparecido – Moradores em situação de rua somam mais de 12 mil

O resultado disso pode ser visto nas ruas daquela que já foi uma das cidades mais prósperas do Brasil, vigorosa em sua economia e movimento do comércio, mas que hoje definha, anda para trás. BH não sabe o que fazer com 12 mil moradores em situação de rua; com o caos no trânsito; com a quebradeira generalizada no comércio; com a sujeira que tomou conta dos centro histórico; com os 400 mil moradores de favelas;  com o turismo que despencou apesar dos reforços do estado, e com a fuga de empresas que estão deixando a cidade em busca de mercados livres da influência nefasta de socialistas atrasados que se acham donos da cidade. Os demagogos, hipócritas e verdadeiros culpados pelo atraso.

A feiúra e o desleixo da capital mineira é fruto da insensatez, da mediocridade e da má interpretação do que seja sua vocação. Tudo isso começou em 1992, quando Patrus Ananias assumiu a prefeitura e transformou o serviço público municipal em um cabide de empregos para “cumpanheiros”. De lá pra cá, nunca mais a cidade se aprumou, só desce ladeira rumo ao que a esquerda deseja: Ver as pessoas de pires nas mãos dependendo de migalhas e de programas de assistência social que aprisionam eleitores incautos ao invés de libertá-los.

Aos que chegaram até aqui, esclareço que não sou contra o projeto de acabar com a BHTrans. Acho que nenhum cidadão em BH desejou tanto que isso aconteça. Meu alerta é para que a mobilidade de BH não caia em mãos dos mesmos, mudando apenas de endereço, e permanecendo com as mesmas ideias atrasadas de cidade.

José Aparecido Ribeiro é jornalista e membro do Observatório da Mobilidade

Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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