A deontologia da profissão foi mandada às favas por ativistas disfarçados de jornalistas
Foto: Acervo Abraji
Jornalista pode e deve ter lado, questionar, ser crítico e até militar nos fóruns próprios, sobretudo aqueles que servem para melhorar as condições de trabalho da categoria, por justa remuneração e defesa da liberdade de imprensa, louvável e digna. O que não se recomenda, e deve ser evitado é a alienação do código de ética da profissão, sua essência deontológica, ultimamente mandava às favas por parcela significativa dos profissionais de imprensa.
Quando descontextualiza ou manipula a noticia de acordo com as suas crenças, corre o risco de transformar o jornalismo em uma espécie de religião, levando os que têm opinião contrária a categoria de inimigos. Chegou a hora da autocrítica, deixar a resistência de lado, e praticar o ofício em sua plenitude, como foi ao longo da história.
Porém se a decisão for tomar partido, ter crenças, ideologias ou preferências no campo político, ainda que elas possam ser justas, o jornalista deve deixar a profissão e ingressar na política partidária, como fizeram vários ao longo das últimas décadas. O exercício da profissão pautado pela conveniência do que é decidido na redação, via de regra para atender o comercial ou compromissos de empresários da comunicação, é incompatível com a ética profissional.
A imprensa está virando religião
Foto: Acervo Montagem Faculdade de Filosofia PUC Minas
Garantir o emprego é justo, legitimo e até recomendável, desde que a reputação e a carreira não estejam a serviço dos acordos eventualmente e nem sempre republicanos de gabinetes. Pego emprestado o exemplo do jornalista Neimar Fernandes em brilhante artigo publicado no seu Blog no Portal UAI, intitulado “A Imprensa está virando religião e eu corro o risco de virar um demônio. É hora de me despedir”.
Neimar é jornalista, publicitário e atuou em várias emissoras de TV. em Minas Gerais. Hoje é autor do blog que leva o próprio nome no Portal UAI, veículo que tive a honra de permanecer por 8 anos. Ele cita o caso das eleições na Câmara dos Deputados e no Senado para mostrar o que virou a imprensa Brasileira, perdida entre a informação e a militância, descompromissada com a verdade dos fatos.
Foto: Acervo Puc Minas – Curso de Jornalismo
Cita que as eleições nas duas casas legislativas foram: “a prova de que a mídia que chama a si própria de “grande”, ou de “nacional”, ou coisa parecida, está se tornando um novo tipo de fenômeno — uma atividade que, definitivamente, não consegue mais operar de acordo com a sua natureza”, disse ainda que: “É como um navio em que os tripulantes querem navegar terra adentro, e não mar afora” relata.
Uma coisa é informação sobre a realidade, outra é tentar criar a realidade que o jornalista acha que é a melhor para o seu público, e é isso que vem acontecendo com os principais veículos de comunicação no Brasil. Perdeu-se a conexão entre o que é a natureza do jornalismo e a realidade factual. Em vez de relatar fatos e deixar o publico julgar, a imprensa age baseada nas suas crenças próprias, em alinhamento com atores políticos, no momento os da esquerda que perderam o poder depois de 16 anos.
A “verdade” da redações não é a mesma da vida real
Foto: Símbolo Egípcio da Verdade
O foco deixou de ser a informação como ela é, mas a que se forja para atender os interesses transitórios. Ao divulgar opinião, crenças e tomar partido como “detentor da verdade”, o comunicador trai seu publico que espera dele fidelidade em pacto tácito que credita ao jornalista o lugar privilegiado e testemunha primeira dos fatos.
Recorro ao artigo de Neimar Fernandes para mostrar o nível de desinformação a que se submeteu a imprensa no Brasil. Exemplo concreto foi dado nas eleições de presidentes da Câmara Federal e do Senado da República.
“Ao tentar emplacar os novos presidentes da Câmara e Senado fica explicita e comprovada à anomalia — um clássico, na verdade, em matéria de desinformação em estado puro. Há meses, desde que o assunto apareceu no noticiário, o público foi informado, do primeiro ao último minuto, sobre algo que simplesmente não estava acontecendo: uma disputa duríssima, dessas em que tudo pode acontecer, entre candidatos do governo e candidatos da oposição. Só que jamais existiu, no mundo dos fatos, disputa nenhuma, nem candidato nenhum da oposição — os únicos candidatos para valer, desde o começo, foram os vitoriosos”, relata.
“O público leu, viu e ouviu, como notícia de grande seriedade, que o então presidente da Câmara teria chance de ser reeleito: Mas a lei proíbe que presidentes da Câmara sejam reeleitos, o STF decidiu que a lei deveria ser mantida. Se nem a corte suprema aceita uma aberração dessas, qual a chance real da reeleição? Três vezes zero, mas a fantasia foi mantida viva, respirando por aparelhos, até a mídia informar que não, não tinha rolado”, acabando com a tentativa de construir por factoides a realidade.
A despedida de quem dedicou a vida ao jornalismo com ética
Foto: Acervo pessoal do jornalista Neimar Fernandes
O jornalista encerra seu artigo dizendo que depois de 45 anos de dedicação à profissão, que abraçou com amor, está cansado e confuso diante da “enxurrada de fake news que brotam de todos os lados”. Ele lembra ainda que talvez seja hora de “baixar o trem de pouso e descansar em terreno menos pantanoso”. Cita que “combateu o bom combate”, em paz com a própria consciência, deixando espaço para jovens dispostos a lutar pela “restauração do verdadeiro jornalismo”.
Despede-se dizendo: “Agradeço a liberdade e prestígio que todos os veículos onde exerci minha profissão sempre me proporcionaram. O tempo pesa no corpo, mas trás sabedoria e discernimento. Aquele que luta com demônios deve acautelar-se para não tornar-se um também. Quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você”, encerra deixando lição para os que insistem em fazer do jornalismo uma religião ou mesmo um partido político com tendências, no lugar de distanciamento.
José Aparecido Ribeiro é jornalista em Belo Horizonte
Contato: 31-99953-7945 – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br
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