Diferente do médico e deputado federal Osmar Terra, a Dra Cláudia Solmucci, Hematologista com larga experiência clínica, tem argumentos e pesquisas que comprovam os benefícios da Cannabis Medicinal
Foto: Reprodução CDC – USA
No início da semana entrevistei o médico e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) sobre o uso da “Maconha Medicinal” e sua liberação através de Leis, e ele se manifestou contrário. Na opinião do deputado, trata-se de um looby disfarçado de empresas que desejam mesmo é a liberação das drogas, o que fere a Constituição Brasileira e afronta o Congresso Nacional.
Como prometido, o Blog ouviu outra opinião e entrevistou a médica Dra. Cláudia Solmucci – Hematologista de Belo Horizonte, atualmente dedicada aos estudos da Cannabis Medicinal, área em que está se especializando, objetivando a sua aplicação clínica nas diversas patologias onde os estudos são promissores, algumas como a epilepsia refrataria e a Doença de Parkinson já com evidências bem robustas.
A Dra. Cláudia diverge da opinião do colega Dr. Osmar Terra e é favorável ao uso da Cannabis para fins medicinais pois apesar de se tratar de uma área ainda muito nova, a investigação científica é intensa e a cada dia surgem novos estudos demonstrando o enorme potencial terapêutico dos canabidióis e outras substâncias antioxidantes e anti inflamatórias presentes na planta.
A médica faz questão de ressaltar que é admiradora do trabalho do Dr. Osmar Terra, ambos são conservadores, defendem o tratamento precoce contra a Covid-19 e são contrários à inclusão do inóculos covid no PNI para crianças. Ela defende a prudência no tema Cannabis, acredita que é necessário o seu controle rígido para não haver dúvidas entre o que é maconha e o que é extrato de Cannabis Medicinal.
O correto inclusive, lembra a especialista, é se referir no lugar de “maconha medicinal’ a “Cannabis Medicinal”, até por que a maconha é cultivada com pouca luz solar, e a Cannabis que gera o extrato, ou óleo, é cultivada a céu aberto e em locais bastante ensolarados. O THC- (tetrahidrocanabinol) é a substancia psicotrópica presente na planta da maconha que possui uma concentração até 33 vezes maior que o cânhamo industrial, nome dado a Cannabis para uso medicinal.
O cânhamo cresce vigorosamente em locais ensolarados, chegando a uma altura de 2 a 4 metros enquanto a maconha no passa de 80 cm. Para uma planta de Cannabis ser considerada cânhamo, ela deve conter no máximo 0,3% de tetrahidrocanabinol (THC), o princípio ativo que causa efeitos psicoativos e que podem levar a surtos e delírios em usuários susceptíveis da droga. Os quadros de esquizofrenia relacionados a maconha geralmente ocorrem em usuários dependentes, não recreativos.
A Cannabis, ou cânhamo, é uma planta milenar usada na China na antiguidade, como remédio para diversas doenças e suas sementes podem ser usadas na culinária, como suplementos nutricionais e em cosméticos. Tudo se aproveita na planta, o caule e as fibras são usadas na fabricação de papéis, tecidos e antigamente até como cordas de navios, graças à sua resistência.
A médica lembra os motivos da polêmica. “Durante a Lei Seca nos Estados Unidos, a maconha que antes era restrita as população mexicana passou a ser consumida por muita gente. Com alegação de que a maconha levava a promiscuidade e ao crime, quando a Lei Seca chegou ao fim, autoridades americanos iniciaram um forte combate as drogas e oportunisticamente incluíram a planta nos mesmo patamar do Ópio e da Cocaína. Acredita-se atualmente que a proibição favoreceu a indústria petrolífera e de fibras sintéticas”, comenta a especialista
“A indústria farmacêutica incipiente na produção de analgésicos e sedativos também se beneficiou bastante com a proibição já que a Canabbis era uma concorrente milenar. A campanha difamatória começou nos EUA e se espalhou pelo mundo”, lembra a Dra Cláudia. Vale ressaltar que a mesma indústria que fez looby contra a Cannabis, é responsável por produtos que causam dependência e são prejudiciais como os benzodiazepínicos, a própria morfina e seus derivados, a codeína e o tramadol que também são opióides. São drogas com fins medicinais que causam dependência, e que são liberadas.
A pandemia mostrou que os interesses comerciais são maiores do que os interesses curativos das drogas, lembrando do caso da Ivermectina que foi uma droga consagrada por décadas, e cancelada explicitamente por que concorria com a vacina cuja a venda superou 8 bilhões de doses. Bilionários conhecidos do show bizz deixaram suas empresas na área de tecnologia da informação para se transformarem em investidores de vacinas. Será por acaso ou por filantropia?
Isso comprova que a Cannabis incomodou a indústria farmacêutica com os seus resultados impressionantes, com potenciais enormes para tratar diversas doenças. Drogas como álcool que causam dependência, provocam surtos, são toleradas pelas autoridades. “Com relação a maconha, o deputado Osmar Terra tem razão, não podemos favorecer atividades ilegais e prejudiciais à saúde humana, precisamos ser vigilantes e não facilitar. Mas uma coisa não tem relação com a outras, o cultivo da Cannabis para fins medicinais se dá de outra maneira”, relata a Dra. Cláudia.
Não podemos confundir e tampouco esquecer que a substancia retirada da Cannabis é muito importante para o arsenal médico e que já possui evidencias em diversas patologias. As pesquisas no entanto ainda estão em fase iniciais e todo paciente que optar pelo tratamento com a Canabbis deve ser esclarecido a respeito destas limitações e possíveis efeitos adversos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ( TCLE) é necessário, confome orienta o Conselho Federal de Medicina para tratamentos ainda não regulamentados na patologia em questão, ou seja, em tratamentos “off label”.
“A título de comparação, não temos evidencias científicas de que a Dipirona abaixa febre, e seu uso na dor e na febre estão consagrados, inclusive tem países que não permitem a droga como é o caso dos EUA. Não existe trabalho científico com a dipirona, ninguém vai pagar para fazer pesquisa para um remédio que não tem patente. A diferenças com a Cannabis é que depois que ela foi liberada, algumas empresas perceberam o seu potencial de lucro e isso fez crescer os olhos dos empresários. O que é natural e necessário, se não as pesquisas ficam inviáveis”, acrescenta a médica.
Nos EUA diversas empresas estão trabalhando dentro da legalidade para certificar a Cannabis em padrões confiáveis, todos autorizados pela agencias de saúde daquele país – CDC. Os laboratórios que se interessaram em comercializar o óleo da Cannabis, precisam garantir que ele tenha apenas 0,3% de concentração de THC. Existem mais de 110 canabidióis em estudo que não tem efeito psicotrópicos. Ao contrário, as pesquisas mostram que são antioxidantes, anti-inflamatórios, alguns inclusive com capacidade de diminuir a insulina, abaixar colesterol, com possível efeito emagrecedor. Outras possibilidades de aplicação estão se delineando também na medicina regenerativa, como o estímulo ao crescimento capilar e ósseo.
A médica lembra ainda que comparar a maconha cultivada sem controle nenhum com altas concentrações de THC, com a Canabbis Medicinal é temerário e demonstra desinformação sobre o tema. Adverte que corremos o risco de perder a oportunidade de avanços na medicina para doenças que não tem cura e levam sofrimento para milhões de pessoas. “Ó Congresso Nacional precisa de votar leis que facilitem o combate ao narcotráfico, em especial ao uso não medicinal da Cannabis, criar condições e normas que regulamentem o cultivo medicinal, separando o joio do trigo. O Brasil está importando por exemplo dos EUA, o que ele pode produzir aqui. Temos indústrias capazes de garantir os mesmos padrões de segurança e controle de qualidade, que dependem de regulamentação e autorização para o cultivo industrial, pois não justifica importar aquilo que podemos produzir no país”, destaca.
Por fima médica lembra que não podemos em nenhuma hipótese misturar interesses medicinais com os interesses do tráfico ilícito de drogas. “São duas coisas diametrais, e que devem ser tratadas com remédios diferentes: A Cannabis que atende a medicina é outra por princípio e modo de cultivo. A maconha que não é medicinal deve ser combatida pelos estragos que provocam na saúde sobretudo a psíquica com dependência e riscos à sociedade. Já a Cannabis Medicinal precisa ser incentivada justo pelos benefícios no tratamento de doenças que são até aqui incuráveis, e que comprovadamente, aliviam o sofrimento daqueles que as possuem”, encerra.
Em outros países a Cannabis é usada na indústria alimentícia para produção de vinho, macarrão, produtos de beleza e outros, mostrando que a mesma planta, respeitando as normas, pode trazer benefícios à sociedade. Para isso o debate precisa ser aprofundado e as generalizações precisam ser evitadas.
Misturar medicina, remédio e política, a prática vem mostrando e a pandemia endossou, traz perdas para o conjunto da sociedade. O uso da Cannabis Medicinal ainda não tem evidencias “A”, mas caminha para isso, como qualquer droga que começou com evidencias inferiores e que hoje se tornaram consagradas no tratamento de doenças.
Prudência e bom senso é o caminho para não haver confusão e preconceitos que só trazem prejuízos para a pesquisa científica e para humanidade que em último caso, é a maior beneficiária dos avanços da ciência e da medicina.
José Aparecido Ribeiro é jornalista e âncora do MPV
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