Funcionando desde 1965, quando não havia residências ao redor, agora resolveram encrespar com o Mineirão, querem fechá-lo para eventos. Quem chegou primeiro, o ovo ou a galinha?
Foto: Minas Arena – Mineirão
Por muitos anos ouvi dizer que Belo Horizonte teria uma arena multiuso de primeira linha, de fazer inveja às maiores e melhores arenas internacionais, tudo isso após a reforma do estádio Magalhães Pinto (Mineirão) para a Copa do Mundo de 2014. A reforma aconteceu, serviu aos jogos da Copa, por 5 anos patinou como arena multiuso, não por falta de competência dos produtores locais ou infraestrutura de receptivo da capital, mas pelas limitações de público e dificuldades de emplacar BH como destino turístico face a pequenez dos seus agentes públicos. Veio à pandemia, e…
Passado o embuste que parou o planeta, a cidade começa a ressurgir das cinzas deixadas pela tragédia épica de um prefeito esquizofrênico. Inexplicavelmente, quando tudo parecia começar a entrar nos eixos, eis que surge a notícia que deixa “gregos, troianos e belo-horizontinos sensatos” de queixo caído: Querem fechar o Mineirão para eventos. Você não está confundindo, repito, apareceu um promotor de “justiça” querendo fechar o maior espaço de eventos de Minas Gerais que quando foi construido em 1965, não havia uma única moradia ao lado. O argumento? “Os eventos estão incomodando a vizinhança.”
Assistimos a oferta de quartos de Belo Horizonte pular de 8 mil para 16 mil quartos em 5 anos, promovendo um desequilíbrio nunca visto na hotelaria. As promessas eram de que haveria eventos suficientes, depois da Copa, capazes de reequilibrar oferta e demanda de quartos nos mais de 120 hotéis da capital, e que o indutor disso seria o Mineirão reformado como arena multiuso. No início, balela, atualmente, realidade.
Foto: Facebook – A vizinhança do Mineirão – Quem chegou primeiro, o ovo ou a galinha?
Que ele incomoda quem mora ao lado, ninguém tem duvidas. Mas será que isso é motivo para fecha-lo para eventos, shows e organizações festivas? Não existe um meio termo depois de 57 anos de existência, para evitar que a maior arena de shows de Minas Gerais sirva apenas para o futebol? Evidente que existem Leis com limites de decibéis e horário para eventos que organizadores devem respeitar rigorosamente, sob pena de multas e até interrupções de shows. Ninguém é obrigado a passar noites em claro.
Não estamos aqui defendendo anarquia, desrespeito às leis e nem tampouco a libertinagem com sacrifício do direito ao sossego, estamos propondo razoabilidade dos dois lados. Mas vezes me pergunto: o que acontece com Belo Horizonte quando o assunto é turismo e desenvolvimento? O pouco caso pelo setor é algo que revela o nosso lado sombrio enquanto sociedade, a nossa mesquinhez.
O mundo inteiro trabalha a favor da maior indústria sem chaminés que existe, o turismo, oferecendo infraestrutura, facilidades, organização, limpeza, marketing, mobilidade urbana, fluidez, entretenimento, gastronomia, compras, lazer e receptividade. Aqui, ao contrário, quem deveria promover justiça, incentivos, conspira contra o turismo, esquecendo que a atividade gera empregos, renda, impostos e melhoria de vida para todos, não só para os que vivem dele.
Que a cidade está um trapo, não é segredo para ninguém, a administração Kalil deixou um rastro de destruição épico que vai levar tempo para ser organizado. Não começou com ele, vale lembrar, iniciou em 1992 com a chegada da esquerda ao poder, e de lá pra cá vem se degradando cada vez mais, pois é do caos que eles se alimentam politicamente. Mas é hora de olhar para frente e dar as mãos para os atores do turismo, incluindo os culturais, sacudir a poeira e trabalhar. Não é hora de fechar o Mineirão por tão pouco!
Pergunto, onde mora o propositor da Ação Civil Pública desconectado da realidade e portador de conta bancária fornida, pago por nós?
Segue carta de entidades do trade turístico e cultural que foram pegos de surpresa nesta segunda-feira (17) com a notícia ESTAPAFÚRDIA E INACREDITÁVEL de fechamento do Mineirão para os eventos.
CARTA ABERTA
Não se cala um Gigante assim. Nós, produtores de eventos, empresários, artistas, fornecedores e entidades representativas da música, da cultura e do turismo de Minas Gerais, que assinam abaixo, estamos surpresos e indignados com as notícias veiculadas pela imprensa acerca de uma Ação Civil Pública, movida pelo Ministério Público de Minas Gerais, que pede a proibição de eventos no estádio do Mineirão.
Num momento de retomada do setor, após dois anos e meio sofrendo as consequências da pandemia de Covid-19, a atitude intempestiva de silenciar o maior palco de shows do Estado é um ato inadmissível e de efeitos incalculáveis para as artes, para a economia e para o turismo mineiro. Estudo do Ipead, realizado no ano de 2019, mostrou que os eventos promovidos pelo Mineirão foram capazes de movimentar R$ 948 milhões na economia mineira e criar quase 6 mil empregos no ano.
E aqui, faz-se, de antemão, a ressalva de que a comunidade do entorno do estádio deve ser sim acolhida nos seus direitos perante a lei para não ser perturbada com ruídos além dos limites estabelecidos pela norma. É justa e cabível a reclamação, se assim o poder público, com seus instrumentos legais de fiscalização, controle e concessão de licenças, verificar. Estranha-se, no entanto, que os caminhos do diálogo sejam colocados de lado por uma atitude que, antes mesmo de um parecer da Justiça, já traz temor e inquietude aos frequentadores e aos demais entes do segmento.
O Mineirão tem agenda divulgada para os próximos meses, com ingressos vendidos e à venda, e o compromisso dos produtores com fornecedores e prestadores de serviço. Além de prejuízos comerciais e contratuais – já acertados ou os que viriam a ocorrer –, o reflexo foi percebido de imediato, com uma avalanche de questionamentos nas redes sociais de toda a cadeia produtiva.
E se já não bastasse, é desrespeitoso e desumano colocar em xeque – apenas para ficar em um exemplo – o último show da carreira do cantor e compositor Milton Nascimento, ícone da Música Popular Brasileira, marcado para o dia 13 de novembro. É de igual forma temerário e insensato desvirtuar o planejamento de milhares e milhares de fãs deste ou daquele cantor ou estilo musical que lá se apresentará nas próximas semanas.
Esta carta é um manifesto pelo Mineirão mas, essencialmente, pela cidade de Belo Horizonte, que, aos poucos, volta aos trilhos do turismo de negócio, dos festivais musicais e de atrações internacionais, antes limitadas ao eixo Rio-São Paulo. Um povo festeiro e hospitaleiro como o mineiro merece um lugar grandioso para extravasar seus anseios.
O Mineirão não é meu, não é seu. O Mineirão é nosso, como cantam as torcidas há mais de 50 anos. Ele é patrimônio do Estado de Minas Gerais, hoje, administrado pela iniciativa privada. Palco de craques do futebol e, cada vez mais, de artistas da música. Tornou-se multiuso e eclético, com espaços para diferentes paixões.
Faz parte da rota do entretenimento de Minas Gerais. Que emociona, que diverte, que emprega milhares de pessoas, direta e indiretamente. O Mineirão é um instrumento de cultura belo-horizontina e uma roda gigante da economia mineira, junto com outros equipamentos. Fez e faz acontecer. Realiza sonhos. Promove espetáculos. Pulsa na veia de quem o desfruta. É parte da minha, da sua, da nossa vida. Tem história e merece respeito. Queremos diálogo. O pleito de proibir é radical. Precisamos construir pontes e não fechar portas.
Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet-MG); Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais (ABAV); Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel); Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE); Associação de Marketing Promocional (Ampro) Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (AMEE); Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL-BH) Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur); A Macaco Indústria Criativa All Star Tenders; Belo Horizonte Convention &Visitors Bureau; Box Entretenimento; Central dos Eventos; Company Events; Do Brasil Live; Épico Eventos; Festival Aproxima; Híbrido comunicação e cultura; Horta Produções & Eventos; Hotel Ouro Minas; Irmarfer Brasil; Jota Quest LS Produções; Lspro LsproLog; Lucs Promoções; Malab Produções; Milton Nascimento; Minascentro; NaSala; Nenety Eventos Nó de Rosa Produções; OTM Produções; Palácio das Mangabeiras; Pampa Elétrica; Pato Fu; RG Produções Secreto; SINDIPROM-MG; Skank; Somtec; Sympla; Tim Soier Promoções; Trio Produtora; Usina de Eventos; Pampulha Turismo; Sindetur MG”
José Aparecido Ribeiro é jornalista e presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo – ABRAJET – MG – Profissional de turismo há 35 anos – Membro fundador do Belo Horizonte Convention e Visitours Bureau – BHCVB.
Wpp: 31-99953-7945 – jaribeirobh@gmail.com – www.conexaominas.com