Passado o dia da Árvore, a homenagem é para as Caminhantes da Estrada Real, agora Amigas

Estrada Real das Caminhantes e a paixão pelas arvores que elas mesmas plantam, já foram 300 mil

Foto: Acervo Acer

Poucos grupos tem compromisso com árvores como o das Amigas da Estrada Real. “Caminhando e cantando, e seguindo a canção” já dizia Geraldo Vandré em seu hino à liberdade em tempos conturbados de ameaça comunista. Qualquer verossimilhança com o momento atual não é mera coincidência… O ato de caminhar sempre nos faz refletir e pode nos inspirar a ter novas ideias.  Foi, justamente, após uma longa trajetória de caminhada que Beth Pimenta pensou em criar o grupo Caminhantes da Estrada Real.

Foto: Acervo pessoal, Beth Pimenta – Fundadora do Grupo Caminhantes da Estrada Real

Após fazer o percurso de Santiago de Compostela, na Espanha, em 2002, embalada por uma separação que lhe deixou marcas na alma, a empresária retornou a Belo Horizonte e entrou em contato com a amiga Dalva Thomás e a convenceu de uma ideia que daria frutos e árvores, muitas árvores.

Ela foi quem deu o incentivo inicial à Beth para criar uma associação de mulheres que realizassem grandes caminhadas pelo percurso da Estrada Real. Juntas, elas convidaram na ocasião 20 amigas com as quais estudaram no Colégio Interno de Conceição do Mato Dentro para fazer parte da empreitada. Nascia ai as Caminhantes da Estrada Real.

Foto: Acer – Beth Pimenta recebe homenagens

A intenção inicial era revisitar a cidade de Conceição do Mato Dentro (MG), então, em 2003, o grupo realizou a primeira caminhada, partindo de Bom Jesus do Amparo (MG) em direção à Conceição do Mato Dentro (MG). “No ano de 2006 fundamos a Associação das Caminhantes da Estrada Real (Acer) e nos últimos 19 anos percorremos toda a Estrada Real, 1700 km”, conta Beth Pimenta, a fundadora da Acer e também idealizadora da conhecida empresa que virou case de marketing, orgulho para os mineiros, a Água de Cheiro.

Foi depois de vender a empresa e separar do seu segundo marido, o jornalista Paulo Cesár de Oliveira que Beth pegou a estrada para Santiago de Compostela na Espanha. Ela relata que o trajeto de Santiago foi difícil, mas que a experiência percorrendo a Estrada Real foi um desafio ainda maior. “Lá em Santiago tínhamos trilhas para nos guiar, já na Estrada Real, em muitos trechos tivemos que andar com a foice abrindo o caminho na mata na nossa frente, o mato tomou conta do antigo e Caminho original”, relata.

Foto: Acervo Pessoal Beth Pimenta

Beth relembra, com muito carinho, que durante as caminhadas, muitas vezes, o grupo se hospedou nas casas de pessoas das cidades por onde passavam. “A gente se virava, na hora de fazer a comida, principalmente. Uma vez a saímos perguntando aos vizinhos ‘quem tem ovo para ajudar, e a Dalva fez uma farofa de ovos para nós”, diz.

O objetivo da Acer é incentivar o desenvolvimento das comunidades visitadas, atuando nas áreas de cultura, educação, meio ambiente, turismo e promovendo ações destinadas à preservação e valorização dos patrimônios históricos, artísticos e socioambientais. O grupo é reconhecido como disseminador da paz e do respeito ao meio ambiente.

Um dos principais projetos da associação é Árvore é Vida, criado International Federation of Business and Professional Women, registrado na ONU e presente em mais de 90 países. A proposta da ação que veio junto com a atual presidente Maria Elvira Salles é plantar árvore nativas da Estrada Real, ao longo das caminhadas. O grupo já plantou mais de 300 mil árvores e pretende chegar a um milhão. Quem teve a ideia de aderir ao programa foi uma amiga da presidente que era do sul do país e sugeriu em uma das reuniões.

Foto: Maria Elvira Sales Ferreira – Presidente do Grupo Amigas da Estrada Real

A acer já recebeu diversos reconhecimentos importantes do governo estadual, mas nenhuma verba. No ano de 2012, foram intituladas como Embaixadoras da Estrada Real. O grupo recebeu em 2019 a Medalha Presidente Juscelino Kubitschek; e em outubro receberam a placa comemorativa dos 30 anos da Constituição Mineira.

As caminhantes, assim como Geraldo Vandré, também têm seus versos sobre os passos que dão pela Estrada Real. “Nos chamam de mensageiras, caminhantes pioneiras, romeiras e peregrinas, mulheres guerreiras!”, esse é o lema de acordo com a presidente.

Compostela, um caminho que origina outro

Os Caminhos de Santiago são os trajetos que percorrem a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, desde o século IX para venerar as relíquias do apóstolo e mártir Santiago Maior, cujo corpo foi transportado para Galiza, uma comunidade autônoma espanhola, e sepultado em Santiago de Compostela.

O caminho mais tradicional é que se inicia em Saint Jean Pied de Port, no sul da França, e vai até Santiago de Compostela. São cerca de 800 km de percurso, que passam por castelos, vilas, cidades, histórias de cavaleiros templários, igrejas encantadoras, plantações de uvas, florestas, pastos e rios.

Foto: Caminho de Santiago de Compostela – Internet

Os Caminhos de Santiago representam aos peregrinos um conjunto de experiências, vivências e sentimentos. Percorrer esses trajetos é uma oportunidade do viajante se conhecer melhor, entendendo o seu corpo, as suas forças e as suas fragilidades. Esses longos caminhos representam uma metáfora em relação a vida: é um longo momento de autoconhecimento, superação e desapego.

Foto: Caminho de Santiago de Compostela – Internet

“Fui com a intenção de procurar um norte para a minha vida. Com todo aquele sofrimento de dormir no chão, sentindo frio, muitas vezes com temperaturas negativas, tomando banho frio, percorrendo longas distâncias enquanto chovia… e foi a melhor viagem da minha vida”, conta Beth Pimenta.

A mais Real das Estradas

Por Estrada Real ou Caminho Real entendem-se os principais caminhos construídos em Portugal e nas regiões de colônias do Império Português. A construção e manutenção eram responsabilidade da Coroa Portuguesa. No Brasil não foi diferente: A construção dessas estradas foi especialmente intensa e relacionada com a atividade de minerária. A designação “Estrada Real” significa que era esse o caminho oficial, único autorizado para a circulação de pessoas e mercadorias. A abertura ou utilização de outras vias constituía crime de lesa-majestade. Não por acaso surge a expressão descaminho com o significado de contrabando.

Foto: Montagem extraido do site da Acer

Os caminhos das Minas Gerais, entre os séculos XVII e XIX, correspondiam a um conjunto de vias terrestres, muitas delas simples reapropriações de antigas trilhas indígena que aproximou diferentes regiões do território brasileiro. Entre os gêneros transportados registram-se: gado bovino em pé, dos currais do sertão entre a Capitania das Minas e a da Bahia; produtos de luxo e escravos, dos portos de Salvador e do Rio de Janeiro; cavalgaduras da Capitania de Pernambuco.

Considera ainda que, no auge da utilização da estrada, erguiam-se às suas margens 179 povoações, assim distribuídas:  Minas Gerais são 163, no Rio de Janeiro são 8, e em São Paulo mais 8 cidades.

Foto: Acervo Fiemg – Marco da Estrada Real

O Caminho Velho ia de Paraty a Vila Rica, atual Ouro Preto.  A partir da descoberta de ouro na região das Minas Gerais, no final do século XVII, esse caminho se transformou na rota preferida para entrar na região das Minas Gerais, assim como para o escoamento de ouro, que era transportado por mar de Paraty para o Rio de Janeiro, de onde embarcava para Portugal. Esta via se estendia por mais de 1.200 quilômetros, que eram percorridos em cerca de 95 dias de viagem.

O Caminho Novo começava na Baía de Guanabara até encontrar o Caminho Velho, em Ouro Branco. Foi aberto por Garcia Rodrigues Pais em 1707, como alternativa ao Caminho Velho, para evitar a rota marítima entre Paraty e o Rio de Janeiro. Se Iniciava em portos do rio Iguaçu ou do rio Pilar, como Piedade do Iguaçu, hoje Iguaçu Velho em Nova Iguaçu, ou Pilar do Iguaçu, hoje um bairro de Duque de Caxias. Esse foi o caminho utilizado para escoamento do café do Vale do Paraíba, por tropas.

Foto: Acervo Acer – Governador Antonio Anastasia incentivando o Projeto

O Projeto Estrada Real foi formulado em 2001 pelo Instituto Estrada Real, sociedade civil, sem fins lucrativos, criada pela Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) com a finalidade de valorizar o patrimônio histórico-cultural, estimular o turismo, a preservação e revitalização dos entornos das antigas Estradas Reais.

O projeto turístico Estrada Real baseia-se no aproveitamento da rota e dos antigos caminhos que conduziam do litoral do Rio de Janeiro para o interior, em especial Minas Gerais, abrangendo as seguintes áreas: Nos vales dos rio Doce, rio das Velhas e rio das Mortes, os núcleos mineradores de: Vila Rica (Ouro Preto); Nossa Senhora do Carmo (Mariana); Nossa Senhora da Conceição do Sabará (Sabará); São João d’El Rey (São João del Rei); Vila Nova da Rainha (Caeté); No vale do alto rio Jequitinhonha, os núcleos mineradores de: Vila do Príncipe (Serro) e Arraial do Tijuco (Diamantina) No oeste, o núcleo minerador da Vila do Infante da Nossa Senhora da Pitangueira.

As Caminhantes percorreram 4 mil quilômetros e plantaram mais de 300 mil árvores

Depois de 19 anos de peregrinação e mais de 4.000 quilômetros percorridos, incluindo o plantios de mais de 300 mil árvores, o grupo mudou de nome em dezembro de 2020 em meio a pandemia, sem perder o motivo principal das viagens à pé,  que é plantar árvores. “A maioria das caminhantes já não estão mais gozando de saúde como antes, algumas já não conseguem mais caminhar grandes distancias. Como tudo na vida, há princípio meio e fim”, relata a presidente Maria Elvira. Mas ela disse que enquanto tiver força e saúde seguira com o propósito de manter o grupo unido.

A ideia depois que as Caminhantes da Estrada Real se transformaram em Amigas da Estrada Real, o projeto siga com menos caminhadas, mas com a disseminação da cultura, da história e, sobretudo do plantio de árvores. O grupo que já teve 70 participantes e que hoje é presidido pela ativista feminista ex-deputada estadual e ex-deputada federal Maria Elvira Sales Ferreira, hoje conta com 44 Caminhantes, que viram Amigas da Estrada Real.

Foto: Maria Elvira Sales Ferreira e João Euclides do Jornal da Savassi

De acordo com Maria Elvira, que já foi secretaria de Turismo, o orgulho de participar deste grupo permanece nos corações de quem já aposentou e não participa mais, e de quem continua firme rumo à meta de plantar um milhão de árvores. “As 44 Amigas seguirão empenhadas e contribuindo para a realização desta missão”, conclui a presidente.

José Aparecido Ribeiro é Jornalista e presidente da Abrajet-MG

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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