Pediatras pedem retorno imediato às aulas e respeito pela categoria nas decisões do Comitê da Covid-19 em BH

Pediatras questionam justificativas do Comitê de Enfrentamento da Covid-19 para manter escolas fechadas e querem o retorno imediato às aulas em BH

Foto: Sociedade Mineira de Pediatria

Pediatras preocupados com as consequências do fechamento de escolas na saúde das crianças belo-horizontinas, bem como de suas famílias, resolveram se manifestar por meio de ofício encaminhado ao prefeito Alexandre Kalil e para o secretário de saúde, Jakson Machado na tarde desta sexta-feira (04).

O ofício é assinado pelos médicos Cássio da Cunha Ibiapina, presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, e Rodrigo Carneiro de Campos, presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil.

Foto: ABNPI

Não é novidade para quem tem informação e mora na capital, que não seja refém do prefeito, a exemplo dos vereadores e dos responsáveis pela propaganda oficial paga (imprensa), que o Comitê de Enfrentamento da Covid 19 virou instrumento de barganha política, e que a saúde da população é mero detalhe.

Foto: Assessoria PBH

O Comitê político de enfrentamento a Covid-19 é liderado por Unai LULA Tupinambás, Karla LULA Anunciata e Carlos Starlin, todos militantes declarados de esquerda a serviço do prefeito e de velhas raposas da política, incluindo o ex-governador Fernando Pimentel, bem como toda a entourage do Partido dos Trabalhados alojados em secretarias da PBH desde 1992.

Foto: Assessoria PBH

Preteridos, desrespeitados e by passados, os pediatras pedem o retorno imediato às aulas e participação nas decisões do Comitê político.  O ofício foi protocolado na PBH e chama atenção para os prejuízos à saúde e bem estar das crianças  que estão sofrendo perdas maiores do que os riscos de contaminação pelo Covid-19, que é perto de zero.

Devemos lembrar que os professores estão em casa há mais de um ano recebendo sem trabalhar. Caixas de supermercados, enfermeiros, médicos, frentistas, motoristas de ônibus e outras importantes profissões não pararam em momento algum.

Na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia, as aulas já foram retomadas há mais de 6 meses. Criança em casa significa risco de subnutrição, violência e abusos de várias espécies.

Segue na íntegra o ofício encaminhado ao prefeito e ao Secretario de Saúde, sogro de um dos filhos de Alexandre Kalil.

Oficio PBH_junho de 2021

Belo Horizonte, 04 de junho de 2021.
Ao Exmo. Sr. Alexandre Kalil
Prefeito de Belo Horizonte
C/Cs.
Exmo. Sr.
Jackson Machado Pinto
Secretário Municipal de Saúde

Comitê de Enfrentamento a Covid-19 de Belo Horizonte

Prezados Senhores,
A Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) e a Associação Brasileira de Neurologia e  Psiquiatria Infantil (ABENEPI) são  sociedades civis sem fins lucrativos, consideradas como entidades de utilidade pública e têm como objetivos principais a promoção do aperfeiçoamento contínuo da assistência à infância e à adolescência; o apoio aos profissionais e instituições que cuidam da proteção e do bem-estar da criança e do adolescente e a divulgação de informações para o cuidado pediátrico baseadas em evidências científicas, sendo fonte de segurança e apoio à sociedade.

Em mais um Ofício dirigido a vossa senhoria, considerando o nosso papel de zelar pela saúde integral da criança, viemos externar a preocupação com a Nota Técnica do Comitê de enfrentamento à COVID número 001/2021, que determina parâmetros que possibilite o retorno à aula baseados em índices calculados por experiente engenheiro  com formação em estatística. Salientamos nossa perplexidade diante de um documento relativo à abertura de escolas que não tenha a participação de um pediatra em sua elaboração, ainda mais considerando que reiteradas vezes sugerimos a presença de deste especialista no Comitê.

O pediatra auxiliaria de forma relevante na atualização dos dados relativos às crianças e na elaboração de ações constantes nos protocolos, com a sensibilidade de quem tem atendido, de forma cada vez mais frequente, inúmeras crianças e famílias sofrendo as consequências da brusca mudança de rotina causada pela suspensão das aulas presenciais. Acompanhamos com atenção o trabalho do referido Comitê e, enquanto não havia dados científicos que comprovassem a segurança do retorno presencial às aulas, estávamos alinhados à posição do grupo de trabalho.

Entretanto, à luz do conhecimento científico atual e de experiências exitosas na vida real, há expressivo corpo de evidências que advogam a favor da possibilidade de retorno seguro, de forma gradual e optativa. Considerando nosso papel de zelar pela saúde integral da criança e contribuir com a disseminação de informações seguras viemos externar nossa preocupação em relação à falta de rigor científico e ausência de referências bibliográficas robustas na criação de uma matriz de risco com soma de escores de risco para COVID-19 com limiares arbitrados pelo Comitê de enfrentamento à COVID-19.

Preconiza-se, em qualquer Nota Técnica, rigor e embasamento científico, além de clareza nos dados apresentados à
população. É importante ressaltar que os pontos de corte, limiares e índices devem sempre ter uma referência na literatura com embasamento científico e não arbitrados por opinião pessoal. Alguns critérios adotados nesta matriz, sem citação clara de referência bibliográfica,  com escolha arbitraria e não referenciada cientificamente, de limiares e pontos de corte e, não utilizada em nenhuma cidade do mundo, chamam a atenção, tais como: a letalidade da doença e a utilização da taxa de mortalidade com peso duplo, que não deveriam ser aplicados à faixa etária pediátrica.

Os indicadores utilizados não têm relação direta alguma com faixa etária pediátrica, sabidamente causadora de baixo
impacto na transmissibilidade da COVID-19. Não é compreensível a utilização do percentual da população geral para o cálculo de risco como uma das variáveis da matriz, e não de professores vacinados contra SARS-Cov-2. Também não é
compreensível o porquê desses critérios serem utilizados somente no protocolo de  abertura das escolas, mas não adotados na abertura de outros setores como bares, restaurantes, academias, feiras livres, teatros e jogos de futebol.

Compreendemos o zelo do Comitê em evitar uma situação de caos, com aumento  súbito de casos e colapso do Sistema de Saúde; entretanto, o acompanhamento rigoroso de indicadores como o índice de transmissão e a ocupação de leitos, tal como já vem sendo realizado pela PBH, podem também ser norteadores da decisão de  reabrir ou fechar as escolas, da mesma forma que já ocorre para outros serviços essenciais.

Vivemos uma situação de emergência em saúde pública na pandemia, ao que se refere a saúde mental de nossas crianças, que representam a esperança de uma sociedade melhor e mais igualitária e merecem toda nossa atenção. O fechamento das escolas há mais de um ano trouxe consequências nefastas e irreparáveis para elas e para suas famílias. Vários estudos demonstraram que a reabertura segura, especialmente para crianças abaixo de 10 anos de idade, não ocasionou aumento da transmissão sustentada do SARS-Cov-2 na população.

A PBH já se pronunciou pelo êxito do retorno das crianças de até 5 anos e 8 meses nas últimas 5 semanas. O avanço paulatino de 6 a 8 anos e posteriormente de 8 a 10 anos, anteriormente programado, seria uma medida que faria muito mais sentido do que a criação de uma matriz de risco inédita com limiares e pontos de corte arbitrados por opinião pessoal.

Pesquisas recentes evidenciaram dados alarmantes sobre os impactos negativos da pandemia da COVID-19 nas crianças, relacionados ao trauma psicológico, com desencadeamento ou intensificação de sintomas psíquicos e transtornos mentais. preocupante o número de crianças vítimas de violência doméstica como consequência do fechamento prolongado das escolas. A evasão escolar maciça já é uma realidade em Belo Horizonte. Para além da doença mental, temos uma população de crianças e adolescentes sofrendo um impacto incalculável e, talvez, irrecuperável, em seu rendimento acadêmico e na socialização, essenciais para a formação de um adulto saudável e produtivo.

Concluindo, uma vez mais a SMP reforça a importância do diálogo entre o Comitê de Enfrentamento à COVID 19 com os pediatras, fato inexplicavelmente inexistente até o momento. É urgente que ocorra um retorno seguro, escalonado, facultativo e individualizado para realidade de cada escola e que Notas Técnicas sobre este assunto sejam apresentadas de forma clara à população.

Por fim, citamos a escritora chilena Gabriela Mistral, vencedora do Prêmio Nobel de literatura, que exemplifica com clareza a urgência de nos atentarmos com extremo cuidado às crianças:

“Somos culpados de muitos erros e faltas, porém nosso pior crime é o abandono das crianças, negando-lhes a fonte da vida. Muitas das coisas de que necessitamos podem esperar. A criança não pode. Agora é o momento em que seus ossos estão se formando, seu sangue também o está e seus sentidos estão se desenvolvendo. A ela não podemos responder “amanhã”. Seu nome é hoje”.

Atenciosamente,
Cássio da Cunha Ibiapina
Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria
Rodrigo Carneiro de Campos
Presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil

José Aparecido Ribeiro é jornalista independente em BH

Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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