Petrobras vende combustíveis em dólar, mas seus custos de extração e refino do petróleo são em Real. Algo está muito errado

Embora o Brasil seja autossuficiente em produção de petróleo e derivados, são os interesses dos investidores da Petrobras que superam os interesses do povo brasileiro.

Com o litro da gasolina ultrapassando a casa dos R$7, o óleo diesel aproximando de R$6, e o álcool ultrapassando R$5, os desdobramentos disso significam inflação. Na ponta de cada bomba de combustível que abastece milhões de veículos todos os dias quem paga a conta é o povo brasileiros, os que podem e os que não podem. Duas contas, a dos combustíveis nas alturas e a das consequências do seu aumento no poder de compra do Real.

O Brasil está numa encruzilhada e à beira de precipício perigoso se a gasolina continuar aumentando e o gatilho da inflação disparar. Para segurá-la os esforços precisam ser de todos os agentes envolvidos na complicada e decisiva matemática financeira que compõem os preços dos combustíveis: Começando pela Petrobras que possui a exclusividade na produção, na exploração e no refino do petróleo, os Estados onde os derivados são comercializados, e o governo federal com a sua parcela menor do queijo.

Não é segredo para ninguém minimamente informado que o foco da estatal é os seus acionistas. No seu plano estratégico 2021 2025 isso fica cristalino Veja o link: Plano Estratégico para o quinquênio 2021-2025 https://petrobras.com.br/fatos-e-dados/aprovamos-nosso-plano-estrategico-para-o-quinquenio-2021-2025.htm?gclid=Cj0KCQjwwY-LBhD6ARIsACvT72MlbdZdiUDl-aBUq4_oubrNsz0kh65mJPO0Z1thdEpUnkYTTXKelPQaAu-XEALw_wcB. A empresa segue o mercado internacional do dólar e do barril buscando maximização de resultados, redução de custos e melhoria no desempenho da sua gigantesca máquina produtiva.  A Petrobras compra e vende os subprodutos do petróleo em dólar, mas 70% dos seus custos operacionais, incluindo dividendos e super salários que uma casta de servidores recebem por cumprirem suas obrigações, são em REAL.

Embora a palavra intervenção assuste “gregos, troianos e a turma do deixa disso”, uma LUPA na política de preços da estatal é inevitável se não quisermos ver o litro da gasolina ultrapassar R$10 e desencadear uma explosão inflacionária com suas devidas e nefastas consequências para a sociedade brasileira.

Evidente que essa intervenção não pode ser feita nos modelos convencionais, a exemplo do que já foi experimentado no governo Dilma e outros, endividando a empresa para sustentar a política de preços, mas também não pode ser regulada por regras do mercado internacional sobretudo se considerarmos os custos da estatal que são em real. O foco social e estratégico da Empresa cuja maior acionista é o povo brasileiro há de permitir uma brecha para garantir recuo no preço dos combustíveis urgentemente. Como está não é tolerável e não pode ficar.

Foto: Francisco do Conde

Como fazer isso, é a pergunta de US$1 milhão. O fato é que sua missão está sendo deturpada. Além de servir e defender os legítimos e justos interesses de seus investidores, a Petrobras precisa exercer seu poder de regulamentadora dos preços dos combustíveis, pois as riquezas naturais que são matéria prima para os seus produtos são retiradas do subsolo brasileiro e ela não é só uma empresa privada. O mais importante, o país é autossuficiente em petróleo.

A relação dos grandes produtores de petróleo do mundo com o correspondente preço em dólar do litro de gasolina mostra que há algo errado na Petrobras que precisa ser corrigido imediatamente, algo que envolve as alíquotas de ICMS, os custos da empresa, a remuneração de investidores e a diferença entre o que é gasto em dólar, apenas 30% dos insumos para a produção, e os outros 70% pagos em Real.

A Petrobrás precisa defender o interesse dos seus investidores, mas não pode esquecer dos interesses e do papel social que cumpre, ou que deveria cumprir, sendo uma empresa estatal. Nos USA o litro da gasolina custa, US$0.90; Arábia Saudita: 0,62; Rússia, 0,68; Iraque, 0.514; RAD: Emirados Arabes Unidos: 0,664; Irã, 0.060; Kuwait: 0,349; Brasil: 1,14. O mundo está errado e a Petrobras está certa?

Conversei com o empresário, engenheiro e vice-presidente da ACMinas, Ruy Araújo sobre essa equação e ele acha que o maior problema que o pais enfrenta em relação à disparada nos preços dos combustíveis é a galopante inflação.

Foi publicado recentemente o resultado das contas públicas de agosto, com um superávit de 16,7 bilhões e os grandes responsáveis por este superávit foram os Estados com um resultado positivo de 23,5 bilhões, um crescimento na arrecadação de ICMS de 18,5% em um ano, sendo de 40% o aumento de arrecadação do ICMS dos combustíveis, cuja cobrança está dolarizada” relata.

Na opinião do vice-presidente, nenhum especialista em orçamento público seria capaz de prever um aumento de arrecadação de tal magnitude. Ele acha que temos aí uma excepcional e única oportunidade de dar um tombo na inflação, mudando esta absurda dolarização da cobrança do ICMS, com a patriótica colaboração dos governadores e da Petrobras, que tem suas receitas dolarizadas e despesas em reais, havendo campo fértil para uma harmonização no preço, além de um estudo na cadeia de distribuição.

Uma diminuição significativa no preço dos combustíveis, não a insignificante queda de 30% para 25% no ICM dada por exemplo pelo governador gaúcho, teria reflexo imediato na quedas das expectativas inflacionárias, desagradando o mercado financeiro  mas protegendo as atividades produtivas”, relata e conclui dizendo que, “seria uma forma bem mais justa e imediata de controlar o dragão inflacionário do que o tradicional aumento de juros defendida pelos parasitas do mercado financeiro, que significa uma  verdadeira tragédia que já se sente  nas atividades produtivas. Tudo isso com um pequeno sacrifício da arrecadação dos Estados e do resultado da Petrobras”, encerra o especialista.

José Aparecido Ribeiro é jornalista

www.zeaparecido.com.br – WhatsApp: 31-99953-7945 – jaribeirobh@gmail.com

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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