Do alto de sua conhecida falta de modéstia o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil veio a público dizer mais uma vez que os incomodados com o carnaval se querem sossego ano que vem, que mudem de BH. Ele declarou no Twitter em alto e bom som: “Agradeço aos que entenderam o carnaval como uma festa pacífica e ordeira (na medida do possível), e a todos aqueles que sofreram o incomodo da invasão de multidões de foliões em nossas ruas”.
O arremate veio com a seguinte frase. “PS: Ano que vem será maior ainda…”. Vamos separar a oração e contextualizar o alcaide que não foi visto em público durante o carnaval, de certo por que estava no seu sítio, gozando do merecido descanso. O prefeito agradece aos que entenderam o carnaval de BH uma festa “ordeira e pacífica”, é mole? Foi ordeira e pacifica para quem ficou dentro de casa encarcerado. E não foram poucas, mas muitas pessoas que não tiveram alternativa.
A imprensa, especialmente a “chapa branca”, cuja folha e rendimentos hoje dependem de anúncios da PBH, tentou botar panos quentes, relativizou e mostrou só parte do rescaldo. Assassinatos, estupros, vandalismo, facadas, tiros, desordem no trânsito e na vida de quem deseja apenas ter o direito de ir e vir preservado. Teve radialista ironizando e mandando os “velhotes” como eu, alugar um sitio. A “autoridade” do rádio mora em um sítio nas imediações de BH, e não teve seu sossego perturbado. Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço…
A ordem é estufar o peito e gritar aos quatro cantos que BH agora tem o maior carnaval do mundo, ainda que no dia a dia aqui também se registre o pior trânsito do Brasil. Neste festival de incoerências, alienação e aparências, de “felicidade” passageira, o direito do outro foi chutado, com o aval do prefeito. O outro, neste caso é a população da zona sul que teve as portas de casa invadida e transformadas em mictório, repositório de garrafas, preservativos e foliões bêbados, quando não, cadáveres.
O prefeito reconhece que o carnaval da forma como foi organizado, incomodou muitas pessoas, em especial aqueles que não deveriam: idosos, enfermos, crianças e pessoas que não são adeptas da desordem, do barulho e da insensatez coletiva. Reconhece mas manda recado: “No que depender dele, 2020 será ainda maior”. Ninguém é contra os que buscam felicidade pulando desvairadamente, isto porque o carnaval existe há séculos, e nunca houve desavenças, havia sim respeito pelo sossego alheio, até recentemente.
Existem meios de agradar foliões e visitantes, sem desagradar à população. Um governante democrata, adulto e sensato, legisla usando sua autoridade para promover a harmonia e não para botar mais lenha em uma fogueira que acende e sugere alerta. O que se busca é organização, distribuição dos blocos carnavalescos em locais que causam menos impactos. A cidade possui uma das maiores arenas multiuso do país, (Mineirão) e ele passa a maior parte do tempo fechado. Por que não usá-lo para o desfile de blocos durante o carnaval?
José Aparecido Ribeiro
Jornalista – jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp 31-99953-7945