POR: Antonio Calabria – Jornalista
Aparência x Essência
“Os que têm tentado reformar os costumes do mundo com opiniões novas, reformam os vícios da aparência; quanto aos da essência, deixam-nos intactos, quando não os aumentam.”
Montaigne – Ensaios, século XVII.
“Há 30 anos, logo depois do encerramento do período da ditadura militar que “escureceu” o Brasil por 21 anos, um grupo de pessoas saído do meio operário e aliado a outro grupo de intelectuais iniciou um movimento que viria a se transformar num dos mais importantes partidos políticos brasileiros.
Nascido no seio do movimento dos operários metalúrgicos do ABC paulista, tomou proporções enormes e em breve suas ideias passaram a importar a um número cada vez maior de brasileiros, desiludidos com os rumos da nova política que se apresentava com novas vestes a cobrir o mesmo corpo de sempre. E esse partido representava a esperança dos que desiludidos, ainda acreditavam na política como forma de modificar para melhor a nossa sociedade.
Com seu discurso de ética e honestidade acima de tudo, o Partido dos Trabalhadores ganhou a confiança de um expressivo número de eleitores e galgou degraus íngremes até chegar à Presidência da República. Para ali chegar, esqueceu seus compromissos com o bem e usou de todos os recursos possíveis para continuar avançando e conquistar o Poder para torná-lo um instrumento a favor dos seus associados.
Traindo seus tão decantados princípios, inaugurou no Brasil um jamais visto leque de corrupção a atingir todos os escaninhos da Pátria, desmoralizando a nossa Democracia e transformando-a num mero caminho particular para conseguir seus objetivos espúrios. De roldão no seu caminho, foi atropelando as instituições até chegar a um ponto que a sociedade não mais aguentou e o alijou do poder.
Neste momento, começaram a vir à tona toda a sorte de maldades perpetradas por eles, desprezando os mais elementares princípios de higidez moral. Agora, frente a frente com a Justiça que avança para punir seus crimes, ainda tentam desesperadamente coibi-la, valendo-se dos mais reles artifícios de que são capazes. Lamentável o que vem acontecendo com o desprezo total voltado à nossa Justiça, quando os seus representantes se arvoram como seres acima do bem e do mal, caso dos ministros do STF, aliados a políticos e criminosos das piores índoles.
Isso tem gerado um desrespeito cada vez maior à parte dela que tem se pautado pela honradez e desempenho honesto de suas atribuições. Isso falando dos integrantes da Lava Jato, chamados de juvenis por um ministro desclassificado e desonrado, e por outro lado tratados com deboche por certo acusado de chefiar uma gang estatal e que se arvora como o mais honesto do país.
Hoje as redes sociais publicam um vídeo desse indivíduo que claramente bêbado faz ameaças aos que ainda se dedicam com fervor às lides da justiça. Lamentável o ponto a que chegamos, repito. “Para esses abnegados de Curitiba, volto a Montaigne”: “o sábio deve, no íntimo, afastar sua alma da multidão e mantê-la com liberdade e poder para julgar livremente sobre as coisas”.
O artigo foi costurado pelo jornalista Antônio Calábria em maio de 2016, e segue atual quatro anos depois, convidando para reflexões.