Sabotagem e plágio em projeto de hotel na Pampulha vai parar na justiça

Sabotagem de projeto hoteleiro, uma história de traição e plágio contada por quem viveu.

Foto: Fernanda Duchemin – Empresária e sócia do Hotel Saint Louis BHte

POR: Fernanda Duchemin

Tive a sorte de conviver com o rigor de meu avô paterno e de vivenciar na prática o bom e velho “fio do bigode” com meu pai, absorvi disso influências salutares. A palavra valia tanto quanto um contrato registrado em cartório. “Tinha que ter na cara, além da barba, vergonha!”, foi o que disse Jorge Linhaça, Arandu, 25/08/09. (Jorge Linhaça é poeta e escritor)

Por que estou dizendo isso? Explico: Em 2011, uma ideia familiar de negócio foi acolhida por uma estrutura empresarial experiente e com meios financeiros para “dar a luz” ao projeto, não hesitamos e nos mudamos meu marido e eu, da França para o Brasil.

Tratava-se de um Hotel em região nobre da capital mineira que deveria ser um empreendimento híbrido e diferente dos demais: hotel de charme estilo francês nos primeiros andares, e residência estudantil nos níveis acima em face da boa localização, ao lado do Campus da UFMG e do Mineirão.  A Copa do Mundo ocorreria no Brasil e BH era uma das cidades sede do evento.

O empreendimento foi fruto do esforço de três famílias: Nunes, Duchemin e Diniz. Esta última, proprietária do imóvel.  A  primeira etapa do projeto teve início em maio de 2012 e foi concluída em setembro de 2014, em plena Copa do Mundo.

O projeto foi pensado em duas fases: a primeira foi a reforma integral da fachada, adequação de todo o prédio às normas de segurança, acessibilidade e padrão 4 estrelas para hotel, que deveria ter 72 unidades voltadas para o público universitário, sendo 39 unidades hoteleiras e o restante unidades estudantis.

Por razões que não cabem aqui agora a segunda etapa do projeto nunca veio a ser inicializada por decisão exclusiva da família proprietária do prédio, o que seria condição sine qua non para a viabilidade economia do projeto em sua integralidade, como pensado em 2011.

Meu drama começa quando me dei conta que uma organização societária sólida e chefiada por um homem que sempre demonstrou ser de boa fé, ético e honesto começou a se esquivar de um combinado que era o de dar continuidade às obras e a nossa parceria que até então fluía normalmente.

Começou com a postergação da entrega da garagem, depois com o comprometimento do diálogo sobre o futuro do projeto e seus impactos no valor dos aluguéis, que simplesmente desapareceram, tirando de cena o interlocutor que participou do projeto desde o início e era de nossa confiança.

A partir disso comecei a pensar que mesmo com os acordos firmados e as obras concretamente executadas, o proprietário do imóvel cairia na tentação de descumprir seus compromissos sob o pretexto de que nossa relação seria pura e simplesmente locatícia. A ideia e o conceito não teria valor para ele. Muito menos o nosso trabalho e o nosso precioso tempo.

Fatos que também não cabem aqui mas que revelaram o outro lado do caráter do nosso parceiro me levaram a crer que o proprietário do imóvel e sua família estariam querendo dificultar a operação do hotel e tumultuar nossa relação de parceria já com intenções de se apropriar do que havíamos construído.

A partir daí deu início ao que entendo ser uma espécie de sabotagem, pois até cabos elétricos que alimentam as luzes da garagem foram cortados. O eletricista contratado e acompanhado por nós não pode efetuar reparos na energia do hotel pois aos berros, acredite, ouvimos até ameaças de morte. “Já matei um e não incomodo de matar outro?

Tudo isso nos obrigou a esquecer do “fio do bigode” mencionado anteriormente e buscar proteção na justiça com uma queixa crime. O que antes era uma parceria acabou virando contra nossa vontade um imbróglio judicial que se arrasta.

Embora houvesse um plano de negócios, entregue em novembro de 2018 com o objetivo de recompor financeiramente as partes as interrogações continuavam muitas, até que em 01/03/19, contrariando todas as nossas expectativas, o hotel foi fechado em cumprimento de ordem judicial liminar (provisória), ainda passível de ser reformada, conforme os trâmites legais em curso.

Na noite que antecedeu nossa desocupação foi de longe a pior de minha vida. Antes mesmo do amanhecer, tendo passado a noite em claro, ali onde vivi com meu marido por quase cinco anos vi meus sonhos ruírem. Vi também o fruto do meu trabalho e dedicação de tantas pessoas durante sete anos serem varridos sem o menor constrangimento por parte de quem ao meu ver, agiu premeditadamente e de má fé.

Me  lembro até do cheiro de pão de queijo quentinho exalando da cozinha, e a movimentação típica de uma recepção de hotel que só os profissionais do ramo apaixonados pelo ofício como eu, sabem mensurar o significado. O hotel estava completo, não havia necessidade do seu fechamento.

Ficam perguntas que me incomodam até hoje: Por que um projeto que trouxe vida e prosperidade a um prédio subutilizado e à seu entorno tinha que ser interrompido daquela maneira? Por que eu havia confiado naquele senhor de boa aparência, que gostava de fazer contas de cabeça e de contar histórias do seu passado? Por que eu havia me deixado levar por uma fé de que tudo terminaria bem e que não seríamos passados para trás?

Foi graças a este drama também que pude descobrir quais são os verdadeiros amigos, vários deles presentes no momento de dor e de perda tão significativa para nós. A história não acaba com o fechamento do hotel. Em seguida começaram os procedimentos da perícia judicial, iniciados 18 dias após nossa partida, e reivindicada desde 2016, por nossos advogados.

Ela servirá para mostrar que estávamos adimplentes com nossas obrigações, em dia com a nossa consciência, e mesmo assim tivemos que desocupar o prédio. Para nossa surpresa, acreditem, o hotel voltou a abrir sem a nossa participação, mas com o nosso plano de negócio sendo colocado em prática com o nome bhresidencial.com.br.

Lá estava todo o nosso conceito de hospedagem para estudantes sendo utilizado sem o nosso consentimento. Quem me acompanhou até aqui só tenho a agradecer e dizer que não tenho barba, mas tenho vergonha na cara e CORAGEM para dizer o que ocorreu, pois caráter e dignidade não tem sexo.

Esta carta é um desabafo e um convite a reflexão sobre negócios que nascem bem, prosperam e são desfeitos em virtude da ganância humana. Serve de alerta para quem entra em negócios acreditando que as pessoas são o que aparentam.

Minha experiência mostra que nem sempre elas cumprem o que prometem e nem são o que aparentam ser. Algumas eu penso que não temem a Deus, e acham que podem fazer o que quiserem.

Sigo confiando na justiça mineira e em especial na justiça divina, pois dessa, ainda que a primeira falhe, não escapamos. A semeadura é livre, mas a colheita é certa e por vezes dolorosa quando se age premeditadamente sabendo que alguém está sendo prejudicado”.

Fernanda Duchemim é empresária e socia do Hotel Sant Louis BHte

José Aparecido Ribeiro é jornalista e presidente da Abrajet-MG

Contato: jaribeirobh@gmail.com – WhatsApp: 31-99953-7945 – www.zeaparecido.com.br

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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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