Incêndio destrói o Museu Nacional e expõe a má gestão da coisa pública

As chamas que transformaram o acervo do Museu Nacional em pó, incinerando um pouco da história do Brasil, incluindo obras de arte, documentos e relíquias que jamais serão recuperadas, deveriam servir para reflexões e lições a serem praticadas por agentes públicos e privados. A comoção nacional vai durar alguns dias, até que outra tragédia tome o lugar desta, ou simplesmente caia no esquecimento como tantas outras.

Neste episódio o Governo Federal será a caixa de pancada, amortecendo mais uma, de tantas que já não causam dor ou incômodos. A resposta, anote, será imediata e virá com promessas, incluindo ações urgentes para reconstruir o Museu, ainda que não tenha restado nada para ser guardado, se não imagens inacreditáveis e uma tremenda sensação de impotência.

Muito provavelmente será feito uma “blitz preventiva de segurança” em todos os museus do Brasil, antes mesmo da fumaça na Quinta da Boa Vista ter sido abafada. De incêndio, outros Museus não serão vítimas. Não creio que seja o governo Temer a “geni” que deva receber pedradas sozinho pela tragédia ocorrida no Rio de Janeiro na noite deste domingo, 2 de setembro.

Na verdade, ainda que minimamente, somos todos responsáveis por essa perda irreparável e por todas que acontecem no país, afinal, o poder emana do povo. Lembro-me da boate Kiss, do Viaduto Batalha dos Guararapes, da barragem de Mariana, do Pavilhão da Gameleira e tantos outros. São episódios tristes que deveriam, mas não deixaram exemplos úteis, pois são recorrentes e sempre recebem o mesmo tratamento, o esquecimento.

Deles deveríamos todos, enquanto artífices e protagonistas da história, tirar lições, e não apenas lamentações, ainda que elas sejam legitimas e necessárias, pelo luto provocado. Até por que, na maioria dos casos citados os responsáveis se safaram, ou ainda não foram julgados, confirmando a tese de que no Brasil tudo acaba em pizza. A título de reflexão, quatro servidores eram os guardiões do Museu Nacional. Apenas quatro…

Enquanto isso, batalhões fazem a segurança de Câmaras Municipais, Assembleias, secretarias de governo, Câmara Federal, Senado, STF etc., locais que são vigiados 24 horas por centenas e milhares de servidores concursados, treinados e bem remunerados. Se ao invés de reclamar, chorar as perdas, achar culpados, refletíssemos sobre a gestão da coisa publica no Brasil, o descompasso e o desequilíbrio revelado neste episódio trágico, talvez tragédias iguais ou piores do que essa fossem evitadas.

Não é falta de dinheiro ou incompetência de governantes o motivo único do incêndio que destruiu o Museu Nacional, mas uma acomodação geral, seguida de passividade e inércia da sociedade somadas à falência da gestão pública. Com efeito, sobra gente de braços cruzados em repartições com pouca ou nenhuma relevância, e falta contingente humano em locais importantes como o Museu Nacional.

Passar em concursos, conseguir estabilidade, virou sinônimo de sucesso e objeto de desejo de milhões de pessoas no Brasil. O país precisa de menos “concurseiros” interessados em estabilidade, e mais compatriotas comprometidos com a coletividade e o futuro da nação. Achar um culpado para essa tragédia não é difícil, complicado é tirar dela lições que podem evitar outras iguais ou piores do que essa.

José Aparecido Ribeiro
Jornalista de opinião
Blogueiro nos portais: uai.com.br – osnovosinconfidentes.com.br
Articulista nas revistas: Mercado Comum, Exclusive, Minas em Cena e Entre Vias
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By zeaparecido

José Aparecido Ribeiro é Jornalista, Bacharel em Turismo, Licenciado em Filosofia e MBA em Marketing - Pós Graduado em Gestão de Recurso de Defesa

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