A Rede Globo exerce grande influência sobre a cultura brasileira e quase ninguém tem duvidas disso. Não fosse assim, sua grade de anunciantes não seria tão grande e diversificada. O mesmo consumidor das propagandas, é também o espectador da programação cultural ou jornalística, do nordeste ao sul passando por São Paulo, do Oiapoque ao Chuí. Onde tem Brasil, tem Globo.
A emissora é dona de um arsenal técnico invejável e de talentos da dramaturgia comparáveis aos “iconoclastas” de Hollywood, atores da mais alta qualidade, ninguém pode negar. É uma empresa de envergadura global e com reconhecimento internacional. Não por acaso acumula prêmios pela sua capacidade de criação, competência, aparato técnico e humano. Sua qualidade técnica é impecável, em que pese sua polêmica programação e jornalismo tendencioso.
Existe em curso, nas mídias sociais, um movimento contra o conteúdo da programação da Globo – que não vem ao caso aqui agora – mas que ganha força e declaradamente tem o aval da igreja católica, de evangélicos e até da classe média formadora de opinião. Poderíamos dizer que não há nada de errado com a programação da emissora, pois assiste quem deseja, e quem tem televisão. 92% da população brasileira. Estamos afinal em um país democrático.
O verbo não está no “futuro do pretérito” por acaso. Não teria se as pessoas fossem iguais e bem informadas. brasileiro gosta de televisão assim com o norte americano de carro, e não é por acaso que os números são iguais. Na casa de 92% dos norte americanos tem um ou mais carros na garagem, já na casa de 92% dos brasileiros tem uma ou mais tv´s dependuradas ou em cima de um móvel.
Só 25% dos brasileiros tem carro na garagem. Aqui carro figura no primeiro lugar dos sonhos de consumo, e em seguida vem a televisão. E onde tem tv, a Globo entra sem pedir licença, mexendo no inconsciente coletivo, com os desejos e até com os valores de crianças, adolescentes e adultos. Quem nunca sonhou em ser ator global? Conquistas que a democracia e a abertura trouxeram para o povo e que são inalienáveis. A principal, liberdade.
A emissora faz isso com esmero e competência inquestionáveis, agora em full HD, de graça, bastando uma antena digital, 24 horas, 365 dias por ano. A qualidade técnica da Globo é surpreendente, seu time de colaboradores trabalha com orgulho, paixão e disciplina. Quem não se encaixa no padrão Globo, não fica. Nunca ouvi funcionários da Globo fazendo piquete por melhorias salariais ou por falta de reconhecimento.
O problema é que ao retratar a vida como ela é a Globo esquece que seu público não vive apenas no Rio de Janeiro, sede da sua produção cultural. 80% do seu público vive longe do eixo Rio, São Paulo. As novelas mostram a realidade do Rio e não do Brasil. Sua dramaturgia retrata o um cotidiano que jamais será vivida pela maior parte do seu público. Gente que nunca visitará o Rio. Eventualmente há um passeio pelo sul, nordeste e até pelo norte do Brasil, através de novelas de época. As que retratam o presente, retratam a realidade das duas capitais.
Boa parte do público da Globo, e neste caso as exceções não são muitas, tem pouca capacidade de fazer leitura crítica do que é fictício para o que é real. Cria-se portanto, fantasias que acabam servindo de referencia, desejos, ditando comportamento. O que passa na novela ou na grade da emissora vira moda ou sonho de consumo para grande parte do publico, especialmente os menos instruídos. Da favela da Rocinha, ou de uma aldeia Xingú à beira do Tapajós no Pará.
Sempre ouvi dizer que a medida do mundo é a nossa medida. O que a Globo faz, talvez sem intenção, é tentar impor um modelo cultural que é a soma do que pensam seus diretores, (80% gays) e neste caso nada contra a escolha de gênero sexual, com a média da cultura carioca, (mais permissiva, libertária e eclética), tanto a do morro, quanto a da Zona Sul. Nem tudo que é “normal” para o carioca, será para o restante do Brasil, Ser gay é natural. Querer que todo mundo seja não é correto, data-venia, direção da Globo.
Repare que o centro de produção artística da emissora fica no PROJAC. (Zona Oeste do Rio de Janeiro). Já a produção jornalística, o business está sediado onde concentra a maior riqueza, São Paulo. Exceto estes dois centros, o de produção artística e o que gera faturamento o restante do país, para a empresa, existe só para aplaudir e consumir o que chega pronto no sofá. Mas será que o modo de vida dos extremos do Brasil são iguais? Evidente que não.
Com efeito, o Brasil têm dimensões continentais e diferenças abissais tanto no poder aquisitivo, quanto nas tradições culturais. Porém a mesma programação que atende as demandas do carioca do morro ou da zona sul, entra em casas espalhadas pelo país inteiro. E isso explica por que a mesma programação choca alguns, e agrada a outros.
As demandas produzidas pelo Brasil do sul tem preponderância sobre aquelas do Brasil do Norte. Ao disseminar a mesma programação para o território inteiro, a Globo acaba desrespeitando tradições, costumes, modos próprios e peculiares. Não por acaso a resposta está sendo dada por religiosos e até mesmo pelo conjunto da sociedade, que pensa um pouco diferente da elite intelectual que comanda a programação Global, e é em sua maioria, Carioca.
Não enxergar isso é erro estratégico ou confissão de que o país deve pensar igual e que as tradições culturais, “atrasadas”, ou “avançadas” tem pouca ou nenhuma importância para quem comanda a emissora.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista, Licenciado em Filosofia.
DRT 17.076 – MG
Blogueiro Portal uai.com.br
31-99953-7945
jaribeirobh@gmail.com.